domingo, 6 de março de 2016

O VALE TUDO da fé


SINCRETISMO + NEOJUDAIMO + MAGIA INSTITUCIONALIZADA

A terceira onda do pentecostalismo brasileira também conhecida como neopentecostalismo, cujo um dos seus maiores expoentes no Brasil é a multinacional Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), tem lançado mão, em seus cultos, de recursos nada ortodoxos para a pregação da palavra de Deus. Com uma mistura de ressignificações teológicas, simbologias, rejudaização do cristianismo e uma evidente volta ao sacerdotalismo a IURD tem pregado alguma coisa parecida com o cristianismo, mas sem dúvida, longe, mais muito longe da santa doutrina. Além do fato que, as práticas marqueteiras “macedianas” serem dignas de inveja aos mais renomados donos de agencia de propaganda do país. Todavia, precisamos reconhecer que, com seu sucesso financeiro, ela também influi em outras denominações neopentecostais, e o principal motivo é a insipiência bíblica. O que é muito preocupante.

Recentemente, Paulo Ribeiro[i] escreveu na revista da USP, cujo título era “ IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: A MAGIA INSTITUCIONALIZADA; CORRENTES DE ORAÇÃO, OBJETOS BENZIDOS, PRÁTICAS SINCRÉTICAS”
Repetitivo, o discurso pregado diariamente pela Universal lida com os mesmos problemas, fornece sempre o mesmo diagnóstico de suas causas e apresenta as mesmas soluções. Para tornar o culto atraente, não enfadonho, algo precisa variar. Variam as formas e a nomenclatura dos rituais ou “correntes” (corrente de Jó, do tapete vermelho, dos 12 apóstolos, do amor, do cheque da abundância, das 91 portas...), assim como o modo de participar deles e o sacrifício (a quantia de dinheiro exigido para o fiel habilitar-se a receber bênçãos. Seu repertório simbólico, além de inusitado nos meios pentecostais que, como o protestantismo reformado, sempre foram avessos ao uso de objetos sagrados (tirante a Bíblia) para não sucumbirem à idolatria, parece ser inesgotável. Indiferente às críticas de outras igrejas evangélicas, a Universal frequentemente distribui aos fiéis objetos benzidos portando poderes mágicos, miraculosos. Essa prática, segundo Macedo, visa despertar a fé das pessoas. Depois de consagrados e anunciados como imbuídos de poder divino para resolver problemas de toda espécie, eles são distribuídos em rituais criativos, tendo por referência qualquer passagem ou personagens bíblicos. Não encerram caráter meramente simbólico. Os fiéis só se submetem a pagar as ofertas estipuladas para obter tais objetos (rosa, azeite, perfume do amor, saquinho de sal, sal grosso, galho de arruda, aliança, lenço, água do rio Jordão, xerox de cédula de dinheiro benzida, areia de praia do mar da Galiléia, óleo do Monte das Oliveiras, espada de plástico, cruz, chave, sabonete...) porque crêem piamente que eles estejam dotados de qualidades sacrais, poderes terapêuticos e sobrenaturais. Para surtir efeito, porém, os fiéis devem participar das correntes de oração durante determinado período, em geral, sete ou nove dias e, em certos casos, até algumas semanas. A quebra da corrente, ou ausência de algum dos cultos, acarreta o não-recebimento da bênção. Quanto aos objetos distribuídos nestas correntes, da mesma forma que na umbanda, por exemplo, os pastores recomendam que eles sejam ora colocados na comida, ora jogados num rio, ora passados no corpo, ora guardados na carteira, carregados pelo fiel e daí por diante. Além disso, documentos, alimentos, peças de vestuário, fotografias são benzidos cotidianamente nos cultos. Tendo em vista o caráter rotineiro de tais práticas, causa estranheza que um bispo da Universal tenha, em dois programas da rede Record, desferido socos e chutes numa imagem da padroeira do Brasil, protagonizando o maior incidente religioso na história recente do país, para combater a idolatria católica. Pois as práticas da Universal mencionadas encerram crença idêntica à contida no ato de cultuar) imagens de santos (negada pela cúpula da CNBB, mas efetuada largamente pelos católicos): a crença de que Deus age através de objetos a Ele consagrados por seus intermediários terrenos. Se é assim, por que o bispo da Universal ironizou a desfuncionalidade e impotência da imagem da santa católica? Ele o fez porque defende a exclusividade de sua igreja na intermediação do poder divino e, por consequência, na dotação de poderes sobrenaturais a objetos. A desqualificação da concorrência, nesse caso, teve menos a ver com estreiteza dogmática do que com ação estratégica na disputa pelo mercado religioso. A Universal não mede esforços para tirar proveito evangelístico da mentalidade e do simbolismo religiosos brasileiros. Apela deliberadamente para o sincretismo. Para tanto, distribui objetos benzidos, retira “encostos”, desfaz “mau-olhado” e realiza diversos rituais que, ao menos pelo nome, evocam os das religiões inimigas. Efetua rituais de “fechamento do corpo”, rito típico dos cultos afro-brasileiros, visando a proteção espiritual do fiel. Com sua peculiar “corrente da mesa branca”, alude igualmente ao kardecismo. No dia de Cosme e Damião oferece “balas ungidas” para as crianças, concorrendo com a prática umbandista de distribuição de doces aos erês. Noutra referência à umbanda, a Universal, vez ou outra, mas sempre às sextas-feiras, promove ritual de descarrego, no qual o fiel é aspergido com galhos de arruda, molhados em bacias com água benta e sal, para que manifeste demônios e deles seja liberto. Às vezes o fiel a leva para captar os males presentes em sua casa e nos moradores. Transferidos os males para a arruda, ela é levada de volta à igreja para ser queimada. O pastor e deputado federal Paulo De Velasco (PSD/SP) justifica o uso da arruda pela Universal como estratégia para “utilizar o que está arraigado no subconsciente coletivo brasileiro” ou “trabalhar em cima” do que as pessoas acreditam. Especialistas em marketing não fariam melhor.   

Tais práticas “macedianas”, desconhecidas até então pelos protestantes, e sem sombra de dúvida idolatras em nada tem contribuído para a pregação sadia da palavra de Deus.

Marta Francisca Topel[ii], Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 10, escreve:
“No que diz respeito às igrejas neopentecostais, é cada vez mais comum a apropriação de símbolos, rituais e trechos da liturgia judaica. Entre eles têm destaque a estrela de David (na bandeira do Estado de Israel ou simplesmente como um ornamento dentro das igrejas), a menorá (candelabro de sete braços), o shofar (chifre de carneiro cujo som tem lugar destacado nas comemorações do Ano Novo Judaico e no Dia da Expiação), o talit (acessório em forma de xale usado pelos judeus ortodoxos), réplicas da Arca da Aliança e passagens escritas em hebraico, tanto nos livros litúrgicos como nas paredes dos prédios dessas igrejas. Em algumas denominações evangélicas é comum que se celebre a Páscoa Judaica e a Festa dos Tabernáculos e a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) organizou em 2007 uma campanha nacional de venda de mezuzot (pequeno rolo de pergaminho, que contém trechos sagrados da Torá, protegido por uma caixinha e pregado nos umbrais das portas de lares e estabelecimentos judaicos). Finalmente, quase todas as igrejas evangélicas organizam viagens a Israel nas quais seus membros e simpatizantes visitam, além dos lugares santos cristãos, os lugares sagrados do judaísmo, como o Monte Sião e o Muro das Lamentações. Paralelamente, apesar de serem menos multitudinárias que as igrejas neopentecostais, as igrejas messiânicas têm se multiplicado nos últimos anos, alcançando uma visibilidade cada vez maior. Sua arquitetura particular, a que se somam os nomes escritos em hebraico na entrada dos templos, como Beit Tsar Israel, Beit Tehsuvá, Ar Tzion e Am Israel, faz com que essas igrejas sejam facilmente confundidas com sinagogas, tanto por judeus como por não-judeus. ”

E isso aos olhos do leigo, parece não haver nenhum tipo de problema, mais há. Se tais pastores ou dirigentes se preocupassem mais em pregar a palavra de Deus e conhece-la, tais absurdos nem passariam perto de nossos templos. Todavia o desconhecimento, e a reengenharia de alguns, aliada ao modismo, tem contaminado nossos púlpitos e tem transformado a liturgia cristã em verdadeiros ”vale tudo”.
Tanto o Catolicismo Romano como o evangelho pregado pela IURD entendem que as bênçãos de Deus não são frutos de sua maravilhosa graça, mais sim, consequência direta de uma relação baseada na troca ou no toma-lá-dá-cá. Neste contexto, tudo é feito em nome de Deus e para se conseguir a benção é absolutamente necessário pagar e pagar alto! Nesta perspectiva tudo se vende, desde o sal grosso até pequenos frascos contendo água do Rio Jordão. Por favor, responda sinceramente: Qual a diferença da oferta extorquida do povo sofrido nos dias atuais para venda das indulgências da idade média? Qual a diferença dos utensílios vendidos no século XVI, para os que comercializados em nos templos da IURD?
Leitor precisamos ter em mente que o sacerdotalismo judaico acabou, a antiga aliança acabou, a tentativa de rejudaização do cristianismo acabou, a recatolização medieval das indulgência acabou, esta foi rejeitada ainda na igreja primitiva, e que são vários os textos  neotestamentários, que afirmam isto, todavia, não cabe a este artigo abranger a todos.
Mas cabe lembrar, o contexto do livro de Hebreus para saber o que está sendo tratado, o autor é desconhecido, e as maiores pendencias da história da igreja são: para que os pregadores cristãos da época fizessem uma advertência a cristãos que eram judeus e agora devido a perseguição sofrida dos romanos pela igreja queriam voltar a ser judeus.
O autor escreve para dizer que o judaísmo acabou que não há nada lá para traz, que a antiga dispensação acabou.
O livro tem uma tese, a tese é esta a superioridade de Cristo, Cristo é superior aos anjos, é superior a Moisés, é superior a Arão, é superior aos sacerdotes, é superior a Levi, tudo em Jesus é superior.
A Igreja não é a continuação do antigo Israel, a Igreja cristã é a maior instituição de Deus sobre a terra, é a noiva de Cristo, e precisa ser tratada como tal.
Fiquemos com o que o Apóstolo Paulo nos ensinou , em 1Co 1.23: “nós, porém, pregamos a Cristo crucificado
                                                                                                                     







[i][i] R E V I S T A U S P, S Ã O P A U L O ( 31 ) : 1 2 0 - 1 3 1 , S E T E M B R O / N O V E M B R O 1 9 9 6   artigo de R I C A R D O  M A R I A N O  IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: A MAGIA INSTITUCIONALIZADA

[ii] Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 10, Maio 2011 - ISSN 1983-2850

sábado, 5 de março de 2016

PROTESTANTISMO ou NEOJUDAISMO

Jo 2:1 As bodas de Caná. (leia o texto)
Na estrutura do quarto evangelho, este é o primeiro milagre de Jesus. A transformação de água em vinho, num casamento numa aldeia obscura. Em João 20.20-31 lemos que os sinais que estão registrados no quarto evangelho assim o foram para que os leitores cressem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e assim, crendo, tivessem vida em seu nome.
A escolha deste evento e sua inserção como o primeiro milagre de Jesus faz parte do plano de trabalho de João. Foi colocado ali premeditadamente. Não é um acidente. Quer dizer alguma coisa. Há uma mensagem na estrutura bem planejada do quarto evangelho e João nos ensina tanto pelo que diz como pela forma que diz. Ensina no conteúdo e na forma.
Mais uma questão: João não usa a palavra “milagre”. Usa o termo “sinal”, como lemos no versículo 11. O termo grego é sémeion, que tem dois aspectos, um demonstrativo e outro expressivo. Ao chamar o evento de sémeion, no versículo 11, João está demonstrando e expressando uma verdade.  Ele quer sinalizar alguma coisa. O que ele está demonstrando e expressando vale mais que o evento.
Prestem atenção nos dois limites do evento. Primeiro, a expressão inicial: “três dias depois”.  Aumenta o sentido da sinalização a forma como o evangelista inicia o relato. Tais palavras se tornaram expressivas, designando a saída de Jesus da morte, com o que sua autoridade foi completamente manifesta.  Depois, como termina: “manifestou a sua glória”.  Que estranho! Manifestou a sua glória num casamento na roça?  João fala da glória de Jesus em 1.14, mas de forma mais bem elaborada teologicamente: “o Verbo se fez carne….e vimos a sua glória” (1.14). Uma expressão limite alude à encarnação. A outra alude à ressurreição. O texto é teológico, portanto.
Feitas estas considerações, fixemo-nos nesta questão: o que significa, na teologia de João, a colocação da transformação da água em vinho como primeiro milagre? Por que João o chama de sémeion? Por que João põe estes contornos ao fazer seu relato? Em outras palavras, o que este sinal quer dizer? Para responder adequadamente, vamos analisar três figuras que aparecem na história: o casamento, o vinho e o Messias, que não aparece explicitamente, mas implicitamente, na forma de João montar sua história.
  1. A FIGURA DO CASAMENTO
Por que o primeiro sinal acontece num casamento?
A figura do casamento está presente nos ensinos evangélicos, como vemos em duas parábolas contadas por Jesus, a das bodas (Mt 22.1) e a das acompanhantes de uma noiva, chamada impropriamente de parábola das virgens (Mt 25.1). Digo impropriamente porque o que está em foco ali não é a virgindade, mas o acompanhamento de uma noiva.  É uma figura significativa, o do matrimônio. Era a maior festa na vida de uma pessoa e marcava sua existência para sempre. Era um sinal de sua maturidade a ponto de poder constituir uma nova unidade familiar.
Na teologia hebraica, a figura do casamento serviu para registrar o berith, a aliança, entre Yahweh e Israel. O profeta Oséias, por exemplo, estrutura seu livro sobre a figura do casamento iniciado com o Êxodo e definido na aliança mosaica. No pensamento hebraico posterior, a festa de casamento passou a ser um símbolo do encontro de Israel com o messias, quando haveria um festim messiânico, como registrado em Isaías 55, o convite era para que todos se cheguem, comam e bebam de graça. A vinda do messias seria a restauração do casamento entre Yahweh e Israel, a reafirmação da aliança.  Um momento de pura alegria. Na instituição da ceia do Senhor, embora seja este um evento triste, Jesus fala da consumação do seu reino como um banquete, com vinho sendo oferecido, como lemos em Mateus 26.29. A figura de uma festa messiânica está presente por todo Novo Testamento.  Em Apocalipse 19.7-8 temos o encontro final do Cordeiro com a Igreja, também retratado por um casamento. Reconheço que estas figuras foram usadas depois do evento de Caná, mas seu uso mostra que a figura era conhecida, fazia parte do pensamento religioso hebreu. Não foram empregadas no éter, sem uma conexão com a cultura e teologia hebraicas. Foram utilizadas porque diziam alguma coisa.
Pois bem, no relato joanino, Jesus começa suas atividades numa festa de casamento. O ensino começa a se delinear: o tempo do messias chegou. Jesus é o messias. O evento de Caná é mais que o simples registro histórico do primeiro milagre de Jesus. No ensino de João, este milagre simboliza a passagem da antiga para a nova aliança. Precisamos prestar atenção neste fato. O autor de Hb 8:13, repete isto, dizendo que a nova aliança substituiu a antiga que acabou.
A glória de Jesus foi manifestada, enfatiza João. Como e porquê? Volto a perguntar: manifestou sua glória numa festa na roça?  Não, há algo mais aqui. Simbolicamente, está surgindo a Igreja porque a nova aliança começa a ser mostrada.  No relato há um noivo. Ele aparece. Não se fala da noiva. Ela é omitida. Ela vai ser criada ao longo do Novo Testamento, a esposa do Cordeiro, a Igreja de Jesus.
O primeiro sémeion tinha que ser num casamento porque um dos ensinos mais fortes na teologia de João é mostrar que Jesus veio para fazer aquilo que Moisés não conseguiu, como no famoso discurso do pão, no capítulo 6. Ali Jesus mostra que Moisés não deu o pão do céu, mas que ele, Jesus, é o verdadeiro pão do céu: “Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá (…) Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.32, 35). Da mesma forma, é com ele que o verdadeiro festim messiânico, que a nova aliança entre Deus e os homens, vai se firmar. O que Moisés não conseguiu trazer, Jesus trará. Ele é o messias que se manifesta numa comemoração de casamento, símbolo do encontro do messias com o seu povo.
A FIGURA DO VINHO
O vinho é, nas Escrituras, símbolo da alegria. No livro de Cânticos, está ligado ao amor conjugal, símbolo da aliança. Jesus se faz presente trazendo vinho, a alegria de uma festa de casamento.
Os rabinos haviam desenvolvido uma curiosa alegoria envolvendo os amonitas e Melquisedeque.  Em Deuteronômio 23.3-4, os amonitas recusaram-se a oferecer pão e vinho aos israelitas. Foram tomados como um símbolo dos gentios. Melquisedeque veio ao encontro de Abraão com pão e vinho, em Gênesis 14.18-20. Tornou-se um tipo do messias. O messias, nesta linha de pensamento rabínico, traria vinho para alegrar a vida dos hebreus, na festa messiânica.
O vinho tornou-se, também, símbolo da torah, a lei, nas analogias rabínicas. Assim como o vinho alegrava a vida, a torah alegrava a alma.
Não há vinho em Caná, símbolo da antiga aliança, a mosaica. A antiga ordem não pode satisfazer o homem nem lhe traz a alegria que ele espera. Aparecem, no texto, seis talhas de pedra. Não são talhas para uso doméstico, em cozinha, banho ou lavagem de roupas. São para o ritual de purificação cerimonial dos hebreus.  As talhas de purificação, na festa de casamento, símbolo do encontro com o messias, estão vazias. A palavra grega usada para o verbo “encher” é gêmizo, que significa encher algo completamente vazio, seco. As talhas não estão parcialmente vazias. Estão secas, completamente secas. A antiga aliança secou-se. As talhas são de pedra. A lei de Moisés foi escrita em pedra. As talhas são seis e não sete. Até isto tem sentido. Seis é o número da imperfeição. Tanto que o número da Besta é 666. Tudo mostra que a antiga ordem é desnecessária porque não tem mais o que oferecer aos homens. A antiga aliança está sem condições de trazer alegria para os homens. Ela teve seu tempo. Passou e um novo momento vai começar agora.
Vivemos dias delicados no movimento evangélico.  Caminhamos para um período pós-denominacional. Reconhecer isto é diferente de desejar isto. Não desejo, mas vejo isto. As pessoas não estão interessadas em denominação. Outro problema é a rejudaização que se vê em nosso meio. Estão tentando trazer as talhas de volta. Assim como a purificação no judaísmo estava associada às regrinhas e à religiosidade humana, tenta-se trazer este tipo de procedimento de volta.  Novenas religiosas, com correntes de tantos dias em uma determinada igreja, de preferência contribuindo todos os dias. O ressurgimento de sacramentos, de gestual, de palavras sagradas, da fé reduzida a uma celebração que acontece num determinado lugar, num determinado dia, comandada por uma determinada pessoa. É o ressurgimento do sacerdotalismo da antiga aliança. E alguns pastores protestantes tem tido esse comportamento com a implantação de vestimentas judaicas, como o talit e o kipá para os cultos evangélicos.
As talhas estão secas, mas querem sua permanência em nosso meio, ressuscitando o judaísmo, com caravanas a Israel para rebatismo no rio Jordão.
As talhas estão secas, mas querem seu ressurgimento com areia santa do rio Jordão, com folha de oliveira ungida do monte das Oliveiras, com água ungida do Jordão, com sal grosso do mar Morto para afastar maus espíritos.  Tentam trazer as talhas de volta com as bugigangas neo e baixo-pentecostais.
Talhas secas é indício de festa sem vinho. Não há aliança com as talhas. Não há purificação, não há realização, não há o messias na antiga aliança.
O sacerdotalismo que hoje se tenta ressuscitar, com a figura do homem ungido, com poderes especiais que os demais não têm, com um acesso a Deus que os demais não têm, com uma oração poderosa que os demais não têm, acabou. Não há porque ressuscitá-lo. “Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios que nunca jamais podem remover pecados” (Hb 10.11). 
Não há porque ressuscitar o judaísmo, não há espaço para o neojudaísmo que se vê em nossa teologia.
As talhas estão secas, a aliança do passado acabou, o tempo pré-messias se esgotou. Só a nova aliança pode satisfazer o homem: “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus (….) porque, com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb 10.12,14).
O evangelho corre hoje o risco de uma rejudaização em forma e em conteúdo. É preciso que nos centremos na nova aliança, na doutrina do sacerdócio universal de todos os salvos, que todos têm acesso a Deus e os mesmos direitos espirituais, que a venda de indulgências que se verifica no cenário evangélico hoje é uma deturpação da graça de Jesus e um retorno aos momentos pré-Reforma.
As talhas da aliança passada estão secas. Não temos que nos prender às nossas raízes judaicas, como querem alguns.  Temos que nos prender às nossas raízes neotestamentárias, aferrar-nos à mensagem da graça e da fé, do Deus que salva os que creem em Jesus Cristo. A mensagem que apregoa a necessidade de arrependimento e fé. Não há cerimônias, não há rituais, não há novenas nem correntes. É graça, é fé, é o sacerdócio universal de todos os crentes.
Jesus está numa festa de casamento. É o messias, que supera Moisés. João 1.17 diz que “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”.  Ele é o pão do céu, que Moisés não deu, mas o Pai dá aos homens (Jo 6.31-33). O vinho não está nas talhas de purificação do judaísmo. O vinho vem com ele, com um gesto seu. Isto é significativo: ele traz a torah. Ele traz o verdadeiro ensino.
As talhas estão ali, secas, completamente vazias. Ninguém pode enchê-las, só ele pode fazer isto. Só ele purifica, só ele traz a alegria e a realização espiritual. Só ele pode tornar o banquete messiânico real. Sem sua presença, a festa seria um fracasso. Ele é o pão e ele é o vinho. Ele é o alimento. Ele é a razão da festa.
Ele tem um vinho superior. O mestre-sala é um profundo conhecedor de vinho. Conhece bem os vários tipos desta bebida. Ele prova os dois e diz que o segundo vinho é melhor. O vinho de Jesus, a torah de Jesus, o ensino de Jesus, é melhor que o vinho da antiga aliança, que aliás, já acabou e deixou as pessoas frustradas. Quem diz isso é uma pessoa que provou os dois.
As talhas da antiga aliança estão vazias. Só há purificação em Jesus, não mais em rituais sacerdotalistas. Ele limpa, ele purifica: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3). Quem já se lavou pela sua palavra, não precisa mais de banho: “Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais está todo limpo” (Jo 13.10). Ele limpa a vida para sempre. Não há necessidade de ritual de purificação. Ele fez isso de uma vez por todas, no Calvário. Não há bênçãos fora dele. Não há salvação fora dele. Não há realização espiritual fora dele. Não precisamos mais das talhas do passado. Ele não tem ligação com o sistema do passado. O vinho não estava na talha e a água não foi tornada em vinho dentro da talha. Não é a talha que está em cena, é a ação de Jesus. É a sua palavra, a sua ordem. Não há como compatibilizar os dois nem como remendar nenhum dos dois. O sistema passado caducou, o novo se levanta e prevalece.
Ele manifestou a sua glória, mostrando que as coisas antigas passaram e que uma nova ordem estava começando. “Se alguém está em Cristo, nova criação é; as coisas velhas já passaram e eis que tudo fez novo” (2Co 5.17). O evangelho é o vinho novo que é melhor que o vinho velho, que é o judaísmo. A graça e a verdade que ele veio trazer são melhores que a lei de Moisés. Por isso, nada de regrinhas, de complicados sistemas religiosos, de mortificações, de retorno ao passado sacerdotal. Jesus desburocratizou a religião. Não há sacerdotes detentores de autoridade exclusiva. Todos são sacerdotes na nova ordem. Não há sacramentos. Não há palavras mágicas, não há ritos mágicos nem cultos mágicos. Devemos dizer não à rejudaização e à recatolização que nos assolam. O evangelho traz esta mensagem: cada um de nós está diante de Deus, como seu próprio sacerdote.

CONCLUSÃO
Podemos recusar o rótulo de protestantes. Pessoalmente sempre achei esta discussão meio ociosa. Mas devemos nos prender à mensagem da Reforma: só a graça, só a fé, só Cristo, só a Escritura. Não às revelações de homens e mulheres especiais, não ao profetismo veterotestamentário, não ao sacerdotalismo judaico, não à clericalização de nossas igrejas. Não à adição de qualquer coisa a Cristo.
Sim ao sacerdócio universal de todos os crentes. Sim ao profetismo universal de todos os crentes. Sim à graça. Sim ao evangelho. Sim à simplicidade. Sim à revelação completa em Jesus. Chega de insistir com as talhas. Elas estão secas e não têm água, muito menos vinho. Jesus é o vinho de Deus. Ele basta. Por isso, sim à suficiência de Cristo. Precisamos reafirmar isto com todas as nossas forças: Cristo basta. Preguemos com todo o nosso vigor a suficiência de Cristo. Rejeitemos com o mesmo vigor toda e qualquer tentativa de trazer as talhas de volta. Somos cristãos e não judeus. Alguns cristãos parecem ter vergonha de serem cristãos. Gostariam de ser judeus. Usam até o chapeuzinho de judeus. Isto porque o raciocínio teológico de alguns é assim: quando Israel rejeitou a Jesus, Deus ficou perdido, desculpem a expressão vulgar, “no mato sem cachorro”, precisando de um povo. Então escolheu a Igreja, como um par de muletas. Recebemos as sobras do amor de Deus. Está errado. A Igreja foi escolhida desde a eternidade (Ef 1.4) e entrará na eternidade. Ela veio da eternidade, entrou na história, e voltará para a eternidade. Ela é fantástica. É a única instituição antes e pós história. Israel era o rascunho e a Igreja, o projeto final. Deus não salva por etnia nem por ato cirúrgico. Deus só salva crentes em Jesus Cristo. Israel precisa se converter a Cristo para ser salvo. Somos a verdadeira descendência de Abraão, pela fé.  Somos filhos de Deus porque Jesus Cristo perdoou nossos pecados e nos ligou ao Pai para sempre. Amarremo-nos à graça, amarremo-nos à cruz de Jesus, amarremo-nos à simplicidade do evangelho:  Jesus Cristo, poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.


Uma homenagem póstuma ao Pr. Coelho filho, I.