terça-feira, 14 de agosto de 2018

A INFLUÊNCIA DO LIVRO DE ENOQUE NO MUNDO JUDAICO-CRISTÃO - Parte 3


A imagética do Mito dos Vigilantes no Evangelho de Marcos.


O cristianismo primitivo tem as suas origens no judaísmo do segundo templo, nosso objetivo nessa última parte é demonstrar toda a carga imagética do judaísmo enoquita e a sua influência na imaginação e na literatura das primeiras comunidades cristãs.
Lazarini Neto explica em seu artigo, que “uma mudança teológica acerca do mal houve entre os séculos II a.C. e I d.C. com o surgimento de uma rica literatura acerca do demoníaco” (2006, p.6). O autor comentava acerca da literatura considerada apócrifa por ser uma literatura composta por revelações sobrenaturais acerca do futuro, cuja imaginação rompia as barreiras canônicas e estavam repletas de citações relativas aos espíritos malignos que “se assanham em contrariar as obras e os designíos do criador do Universo”.
A dependência dos textos do Novo Testamento à tradição de Enoque, em especial ao Mito dos Vigilantes, é aceita por muitos pesquisadores. Terra afirma que houve um senso comum de que a tradição enoquita teve grande apreço nas comunidades cristãs, a ponto do primeiro livro de Enoque estar na lista dos canônicos na Igreja de língua etíope (2014, p.117-118).
São várias as influências desse mito no imaginário cristão, sendo que um dos mais relevantes é o imaginário dos demônios, mas temos outras influências enoquita em diversos textos neotestamentários, tais como: Epístola de Judas 6; 14-15; Epístolas Petrinas - 1 Pe 3, 3-4 (adorno) 18-21 (espíritos em prisão), 2 Pe 2,4; Epístolas Paulinas e Pseudopaulinas- 1 Co 11.10, 1 Tm 2,9-11;Encontramos esses ensinamentos também em literaturas extra canônicas de autores dos primeiros quatro séculos, como por exemplo: Epístola de Barnabé. Justino Mártir (Primeira Apologia 5, 1-4; Segunda Apologia 5); Atenágoras (Súplica pelos Cristãos 24-26); Irineu (Contra Heresias 1.10.1; 1.15.6; 4.16.2; 4.36.4); Clemente de Alexandria (O Instrutor 3,2.14; Eclogae Propheticae53,5; Stromata III 7,59)[1]; Tertuliano (Apologeticum 22, 3-4; De cultufeminarum i 2,1; ii 10, 2-3); Cipriano de Cartago (De habituvirginum14); Pseudo Clementinas (Homilias 8, 12-18; Reconhecimento 4,26); Lactantius ( DivineInstitute 2,15). Outros textos gnósticos, tais como: Pistis Sofia, Tratado sobre a origem do mundo e Apócrifo de João[2] (1984, p.19-34).
Terra afirma (2010, p.125) que com essa amostragem da influência de temas, imagens e ideias da narrativa dos Vigilantes na literatura neotestamentária e nos posteriores textos cristãos, podemos partir para a questão do demoníaco nos sinóticos, especialmente na questão de espíritos imundos. Boccaccini também concorda com a ideia de que a presença de um movimento enoquita na palestina, comprova a hipótese de uma possível relação de Jesus com essa tradição entre as ideias do(s) Cristianismo(os) da(s) origem(ns) e o enoquismo. Segundo Nickelsburg (2001, p. 65), pode ser garantida, pois o próprio texto de 1 Enoque 6-16, por causa de suas informações geográficas, mostra que pelo menos essa parte pertencia à região setentrional da Galiléia.  Conforme o autor, muitas tradições nos sinóticos relacionam Jesus à Galiléia e provavelmente à fonte Q teria sua origem e naquelas regiões (TERRA, 2014, p.125).

O Demoníaco nos Sinóticos como Espíritos Imundos

A presença do imaginário do demoníaco nos sinóticos é muito intensa. Jesus e seus discípulos lutam com a presença de um inimigo implacável – Satã, “tramando incessantemente a ruptura da fidelidade do Senhor e pondo a perder os seus corpos e almas” (NOGUEIRA, 2000, p.26). Segundo Pagels “os autores dos evangelhos compreenderam que a história que tinham que contar pouco sentido faria sem Satanás” (1996, p.34).  Segundo os autores a ideia era que a traição e a morte de Jesus faziam parte de um vasto conflito cósmico, em que a batalha final ainda não fora travada, muito menos vencida.
Em seu artigo, Lazarini Neto informa que segundo os sinóticos, na Palestina, ao tempo de Jesus, havia uma proliferação demoníaca sem precedentes (2006, p. 8). Nesse cenário, que evoca uma guerra cósmica, Jesus é apresentado como “um tipo de fazedor de milagres que age com a autoridade de origem divina, mas sem a mediação das formas, rituais e instituições através das quais esse poder divino costuma se manifestar” (CROSSAN, 1994, p.192).
O Evangelho de Marcos, entre os sinóticos, chama a atenção pelo volume de material referente às atividades exorcistas de Jesus. Ao analisar tais narrativas verificamos as expressões “espíritos imundos” e “demônios”.  Precisamos tentar entender a diferença entre elas.  Para ajudar a dirimir essa dúvida, Terra apresenta os termos usados nos sinóticos para designar a presença dos seres malignos que causam danos aos homens, são estes:

a.  Daímon: masculino singular (demônios). A única passagem a usar o termo é a de Mt 8,31, no plural masculino (daímones). A expressão grega daímoné derivada de daímonai, que é substantivizado formando daimónion. Como as divindades no período clássico poderiam ser boas ou más, nos evangelhos e nos cristianismos sempre terá a conotação negativa.
b. Daímonion: adjetivo neutro, seu plural é daimónia: demônios. É usado pelo menos 63 vezes no NT. Esse termo é usado no NT no lugar de daímon por sua impessoalidade: “a mentalidade popular havia criado este vocábulo para designar poderes impessoais, potencias espitituais ou forças maléficas” (ALVAREZ, 1995, p.61)
c.    Daimonízomai: ser endemoniado, ser possesso por um demônio.
d.   Pneuma: espírito. Com os seguintes complementos: álalon (mudo), álalonkaíkofón(mudo e surdo), asthenéias (enfermidade), akátharton (imundo), daimonionakárthaton (de um demônio impuro) e ponerón (maligno/mau) (2014, p.126-128).

Dos evangelhos sinóticos, Marcos tem um bom material preservado sobre possessão maligna e ação demoníaca, Terra chama nossa atenção ao informar que em todos os quatro exorcismos preservados em Marcos (1, 23-28; 5, 1-20; 7, 24-30 e 9, 14-27), assim como nas perícopes (3, 10-12 e 20-30) encontramos a presença do (s) espirito (s) imundo (s) (2010, p.106). Segundo Schiavo “dado o número considerável de exorcismo na atividade de Jesus, eles fogem do gênero literário mais amplo de milagres, para constituir um gênero próprio, que chamamos relatos de exorcismo” (2000, p.62).
Mc 1, 21-28 – episódio na sinagoga de Cafarnaum –Marcos inicia o ministério de Jesus com um relato esquematizado da autoridade que caracteriza o seu ensino. Essa autoridade, a aureola sobrenatural de sua pessoa, sua reação ante o mal, a ordem eficaz e a culminação da expulsão são pontos que chamam a atenção do leitor. O texto é conhecido como exorcismo inaugural, Jesus encontra alguém com um espírito imundo (v.23), não há variação terminológica para a identificação do ser que foi expulso, pois no v. 26 sai um espirito imundo e no v.27 Marcos informa que Jesus tinha autoridade sobre espíritos imundos. Nesta perícope, alguns fatos importantes: a) o espirito imundo parece conhecer bem quem era Jesus; b) eles possuem conhecimentos cósmico e c) de alguma forma a presença de Jesus o incomoda. (TERRA, 2010. p,129)
Mc 3, 10-23 – sumário demonológico – o contexto é de cura, os espíritos imundos ao verem Jesus se prostravam e gritavam “tu és o filho de Deus”. Aqui os espíritos imundos querem revelar algo, e Jesus deseja que seja silenciado. O autor informa que o sumario de Mc 1.34 e também Mc 1.39 o autor diz que Jesus expulsou demônios (daimônia), a impressão é que chamar de espíritos imundos ou demônios, a luz do paralelo desses sumários não há diferença. (TERRA, 2010. p,130)
Mc 3, 20-30 – controvérsia e Belzebul – nessa controvérsia, Jesus é acusado de ter autoridade de exorcizar (Meyrs, 1992) pelo poder de Belzebul (v.22), líder dos demônios. Jesus responde que Satã não pode expulsar Satã (v.23). O v.30 é conclusivo na perícope diz “isso, porque dizem: ‘Ele tem um espirito impuro’”. Para o autor, Satã (Belzebul) é um pneûmaakátharton. (TERRA, 2010. p,131)
Mc 5, 1-20 – episódio de Gerasa – Jesus se encontra com um homem possuído de espírito imundo (v. 2,8, [singular]). Segundo Terra, seria uma região perfeita para o aparecimento de um espirito imundo, pois era considerada impura. Conteúdo, tudo se harmoniza quando os espíritos imundos entram em porcos, que também são impuros. Todavia, nos versos 15, 16 e 18, Marcos informa que o homem estava possuído (endemoninhado), possuído pelo (s) demônio (s). Concluindo, estar com espírito (s) imundo (s) é o mesmo que possuir demônios. O autor conclui que, na ordem e lógica presente no texto, independente de suas questões diacrônicas, o demônio era um espírito imundo, com um adjetivo ou algo que revelava a sua característica: ser imundo. (2010, p. 132)
Mc 7, 24-30 – episódio na região de Tiro – Há um encontro de uma mulher siro-fenícia com Jesus, sua filha tem um pneuma akárthaton (v.25), e imediatamente no v.26 de Marcos, aparece o demônio. O problema a ser resolvido era a possessão. Nesse texto, segundo Terra, fica mais clara a relação entre espírito imundo e demônio. O primeiro é uma espécie de característica ou um adjetivo para o segundo. Assim, o demônio é para Marcos, um espírito imundo. (TERRA, 2010. p,133)
Mc 9, 14-271- episódio pós-transfiguração – trata-se do último exorcismo preservado em Marcos. O espírito é identificado como mudo (v.17), imundo (v.25) e mudo e surdo (v.25). Na perícope há uma ênfase na palavra espirito (6x), além dos adjetivos: mudo, imundo e surdo. (TERRA, 2010. p,134)
Nos versículos apresentados, notamos que para a comunidade marcana não há uma diferenciação clara entre demônio, espírito mudo e surdo e espírito imundo.
Para Terra, como resultado de sua pesquisa sobre a relação entre espíritos imundos e demônios nos sinóticos, ele diz “na análise sinótica e [Q] das expressões espíritos imundos e demônios, percebemos que as duas se confundem”. Segundo o autor, o que Marcos chama de espíritos imundos, Mateus e Lucas chamam de demônios.


Para a comunidade marcana, todo o Universo é encarado como uma guerra entre dois reinos: o de Cristo e do diabo. Jesus é incumbido da missão divina de destruir o reino das trevas, por outro lado, Satã esforça-se para impedir a expansão do reino de Deus. No meio dessa guerra cósmica está a humanidade que é afligida pelas forças demoníacas com sofrimentos físicos e psicológicos. Nogueira diz que aos olhos de todos “Satã e seus exércitos estavam em uma posição de dependência absoluta frete a Deus e de total impotência no enfrentamento com o Messias” (2000, p. 26-27).  Desta maneira, para o Novo Testamento tudo que afasta os homens de Deus é uma “manifestação do diabo”.
Myers percebe nas narrativas de Marcos, “entre outros elementos por um dualismo apocalíptico radical, no qual a nova ordem com Jesus se opõe a antiga ordem defendida pelas instituições hebraicas. Ligado a esse dualismo, Myers acrescenta uma relação da narrativa com o “Mito do combate” apocalíptico. “Desde o primeiro combate apocalíptico no deserto entre Jesus e seus anjos de um lado e Satanás e suas feras selvagens de outro (1.12s.), é claro que existe mais do que a luta de Jesus com ordem dos escribas do que os olhos vêem” (1992, p.137).
Parece estar claro que, conforme as palavras de Myers, “o exorcismo é o principal veículo para articular o mito do combate apocalíptico entre os poderes (e seus favoritos terrenos) e Jesus (como enviado do reino) (1992, p.183).

Conclusão

Nesse breve ensaio sobre o Mito dos Vigilantes, nosso estudo se deteve especificamente em apresentar a pessoa enigmática de Enoque, mostrar a influência do texto no judaísmo do segundo templo e consequentemente a influência teológica e imagética nos primeiros cristãos.
Não interessaram de modo imediato, as questões profundas acerca da autoria ou o tempo de redação do texto, e sim, como a literatura enoquita e sua narrativa do “Mito dos Vigilantes” (mito dos anjos caídos) logrou muita relevância na tradição judaica, pois serviu de resposta a desconcertante pergunta sobre o mal no mundo.  Para Terra uma parte do judaísmo encontrou não em Deus, mas em ações angelicais a origem de muitas ações inaceitáveis, como a guerra, a magia, o adultério, a sedução e pratica imorais ligadas à mulher (2010, p, 153).
Quando surge o cristianismo, a teia imaginária da presença do demoníaco já estava toda traçada, analisamos essa presença na literatura marcana, na qual ficou bem clara a relação da expressão espíritos malignos e os demônios.
Assim o Mito dos Vigilantes, teve influência não somente no judaísmo, mas também no cristianismo como podemos verificar nos sinóticos, nas tradições petrina, paulina, deuteropaulinas, pseudopaulinas e em Judas. Com isso, podemos resumir que a narrativa dos anjos que caíram do céu foi muito importante nos escritos bíblicos e está presente em nossas comunidades, como diz Terra mesmo que não percebam (2010. p,157).


[1] Para uma exposição resumida e didática da utilização de Clemente de Alexandria, ver a recente dissertação de Anderson Araújo. ARAÚJO, Anderson Dias. Anjos Vigilantes e Mulheres Desveladas...p. 55-56. E também o texto de Vanderkam: VANDERKAM, James C. Enoch, a mam... 173-180.
[2] Para maiores referencias da tradição dos Vigilantes no gnosticismo, ver: STROUMSA, G. Another Seed: Studies in Gnostic Mythology (Nag Hammadi Studies 24). Leiden. E.J. Brill, 1984. Pp 19-34.

Referências bibliográficas


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domingo, 15 de julho de 2018

A INFLUÊNCIA DO LIVRO DE ENOQUE NO MUNDO JUDAICO-CRISTÃO - Parte 2


O demoníaco na Bíblia Hebraica.
Na academia, é quase consenso entre especialistas não haver no Antigo Testamento uma demonologia propriamente dita, como ocorre no Oriente Próximo (Schiavo, 2000), todavia, na literatura apocalíptica do judaísmo tardio existe uma proliferação de demônios bem esquematizada e organizada. Não há na Bíblia Hebraica a presença e a personificação do mal ou um termo para designar um demônio com autonomia. Conforme Schiavo (2000, p.133) “a figura independente do mal, é difícil de identificar no Antigo Testamento por ser fruto de uma mistura cultural, com influências da magia, da religiosidade popular do ritualismo apotropáico oficial, do simbolismo poético”.
Lazarini Neto em seu artigo à Revista Theos diz que é possível verificar nos textos mais antigos, anteriores ao exílio babilônico, que o conceito de diabo ainda era inexistente, sendo que o único autor do bem e do mal era proveniente do Deus Iahweh, se tivesse alguma manifestação do mal somente poderia vir dele, pois só havia ele. Em Isaías 45,6 lemos Para que se saiba, até a nascente do sol e até o poente, que além de mim não há outro; eu sou o SENHOR, e não há outro”. Maggi (2003, p.18) entende que Deus era “tido como único responsável pelos males existentes no mundo, era apresentado com traços mais diabólicos do que divinos [ou, pelo menos, tão diabólicos quanto divinos]. Pois conforme Dt 28,63 dentre as ameaças nefastas de maldição, Ele “se alegrará em vos fazer perecer e vos destruir”. Em Lm 3,38, encontramos “acaso não procede do Altíssimo assim o mal como o bem? ”. Essa visão de Iahweh como o único responsável pelo bem e pelo mal começa a ser corroída no Livro de Jó, segundo concepção de Stanford (2003, p.31), ou “porque nele foram proclamados os dilemas e as dúvidas que sempre afligiram a humanidade, ou por ele ter sido um documento subsequente”
Fohrer (1992, p. 467) lembra que “no começo do período pós-exílio encontramos as primeiras menções de Satã, porém como parte do mundo de Iahweh, um membro da corte celestial, uma espécie de promotor, apontando os erros dos homens (Zc 3,1s; Jó 1,6s; 2,1) É consenso entre os especialistas que os judeus não possuíam uma demonologia definida. Para eles, os espíritos malignos – rûah raha, eram enviados por Deus como punição. Esses espíritos não tinham existência própria, na cultura judaica, a ideia de um Deus único, todo-poderoso, senhor do bem e do mal.
O cativeiro na Babilônia, determinam mudanças significativas no modo de ver o mal no Antigo Testamento. A primeira, é a influência decisiva na formação de uma demonologia mais definida. Os caldeus desenvolveram uma riquíssima demonologia – legiões de entidades semidivinas em cinco classes, cada classe com “sete demônios” e com atributos distintos. Na opinião de Stanford (2003, p.27), “o exilio foi um momento crucial na formação da identidade judaica”, eles precisaram repensar seus conceitos, principalmente o de povo escolhido. Um segundo fato, ocorre na tradução da Bíblia Hebraica para a língua grega, a chamada Septuaginta (LXX), época que floresce o demoníaco. Para Link (1988, p.24), “mais de trezentos anos antes de Cristo, um fator de resultados imprevisíveis fora introduzido pelos judeus alexandrinos: ao verterem o Antigo Testamento para o grego, traduziram o “satan” para o grego “diabolôs””.
A partir dos séculos II a.C. e I d.C., aparece uma mudança na perspectiva acerca do mal com o surgimento de uma rica literatura acerca do demoníaco. Essas literaturas consideradas apócrifas supõem revelações sobrenaturais acerca dos mistérios divinos, conhecidas hoje como apocalípticas. Nessas literaturas, a imaginação rompe as barreiras canônicas e estão repletas de citações relativas aos espíritos malignos que “se assanham em contrariar as obras e os desígnios do criador do Universo”, explica Nogueira (2000, p. 20)
I Enoque é o imo de uma antiga e autônoma vertente do judaísmo do segundo templo, o judaísmo enoquita. Em 1990, Sacchi (1990, cap. 3) faz a primeira tentativa de escrever a história desse movimento enóquico. Segundo ele, conceito do mal seria a sua principal particularidade.
A partir de agora, caminharemos em textos da tradição judaica do segundo templo, em especial os apócrifos e pseudoepígrafos e os vinculados aos Manuscritos do Mar Morto (MMM), para analisarmos indícios literários da tradição de Enoque em especial do Mito dos Vigilantes, e a origem da presença do mal.
Terra (2014, p.76) afirma que o mito dos Vigilantes é comentado em vários textos judaicos do segundo templo, especialmente nas literaturas apocalípticas. Época em que já se desenvolvia uma demonologia, fruto da influência de outras culturas. Segundo o autor, um conjunto de ideias e seu desenvolvimento do conceito de espíritos imundos, podem ser facilmente localizadas pelos rastros deixados na história da literatura. Jonas Machado, mostra uma metáfora para explicar essa mudança no imaginário judaico, ele explica que quando dois carros se chocam, ambos saem deformados. “Ocorre, de fato, um choque na relação de culturas e cada uma continua seu percurso, mas agora deformada, ainda que geralmente de modo desproporcional”. Isso é possível por causa da relação de troca entre as culturas. Assim como o Mito dos Vigilantes recebeu contornos demoníacos em sua narrativa. Esta, por sua vez, gerou imagem no imaginário do segundo tempo, explica Kenner.
Encontramos citações do Mito dos Vigilantes nas seguintes literaturas judaicas do século II a.C.: Livro dos Jubileus; Testamento dos Doze Patriarcas; Os Oráculos Sibilinos; vários textos de Qumran; O Documento de Damasco; Período da Criação; Livro dos Gigantes; 2 Baruc; 2 Enoque; Filo de Alexandria e Flávio Josefo.
É necessário comentar a importância da literatura de Qumran e seu grande número de textos que falam a respeito de seres malignos. Na imagética qumranita o mundo está infestado de anjos e demônios, e eles influem na vida interior do ser humano e do cosmo. Assumindo uma guerra cósmica e dualista entre o bem e o mal, segundo Garcia Martinez.

sábado, 9 de junho de 2018

A INFLUÊNCIA DO LIVRO DE ENOQUE NO MUNDO JUDAICO-CRISTÃO - Parte 1


A tradição de Enoque e os anjos caídos
Quem foi Enoque?
Antes de analisarmos a influência enoquita no mundo judaico, precisamos entender sobre esse personagem mitológico e enigmático que deu origem a inspiração dessa literatura. Enoque aparece em duas genealogias no livro de Genesis. Em Gn 4. 17-18, de fonte Javista, Enoque é o terceiro na genealogia. Adão gera Cain que gera Enoque. Porém, no capítulo seguinte Gn 5, 18-24, de fonte Sacerdotal, Enoque passa a ser o sétimo após Adão. Lemos que Enoque era filho de Jarede e pai de Matusalém. E que “Todos os dias de Enoque foram de trezentos e sessenta e cinco anos. Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si”. Dois fatos importantes se destacam nesse texto de Gênesis, o primeiro é que Enoque viveu pouco em relação a todos os outros citados, e o segundo é que Enoque é o único que não morre, mas é tomado por Deus. Para Collins (2010, p.77), a breve menção sobre Enoque “é a semente da qual as especulações posteriores nasceram”, o fato da menção sacerdotal de que Enoque é o sétimo após Adão e que vive 365 anos, está em paralelo com a lista dos Reis Sumérios, onde o sétimo rei é Enmeduranki ou Enmenduranna rei de Sippar, centro do culto de Shamash, cultuavam o deus sol, cujo calendário solar era de 364 dias.
Collins (2010, p.79) entende que há paralelos entre Enoque e as figuras lendárias mesopotâmicas sugere que Enoque foi desenvolvido como uma contraparte judaica de heróis tais como Enmeduranki – nenhum pouco inferior a estes em antiguidade e status, ou acesso ao conhecimento divino. Para o autor, a figura de Enoque pode ser percebida por um lado como uma resposta aos heróis dos quais os babilônicos reivindicavam grande sabedoria e poderes revelatórios. Na comunidade judaica da diáspora ocidental, Enoque passa a ter grande importância, pois fora misteriosamente “tomado” por Deus, por isso, estava apto a ser o revelador dos mistérios celestiais da história primordial de toda a humanidade. Para Reed, Enoque torna-se com o passar dos tempos um escriba, sábio, cientista, visionário que é tomado para o céu e atravessa com os anjos a terras até seus confins. Como profeta e testemunha ele exorta contra o pecado, prevê a história e até intercede pelos anjos pecadores.

Os anjos caídos
O Mito dos Vigilantes (mito dos anjos que caíram do céu) está preservado no Livro dos Vigilantes, “pode servir de introdução à literatura de Enoque, uma vez que é uma das obras mais antigas, pré-macabeia, e fornece a elaboração mais explicita da história de Enoque” (COLLINS, 2010, p. 80). Este livro, somente foi preservado na versão etíope (no idioma Ge’ez), daí o nome de I Enoque ou Enoque etíope. Após sua descoberta no sec. XVIII, sua primeira publicação iniciou-se no séc. XIX, realizada por R. Laurence em 1839. A partir de então tem impulsionado muitos pesquisadores a levarem a sério sua importância.
É consenso entre os pesquisadores que I Enoque de que o livro tenha origem compósita, uma coleção de cinco livros que não estão em ordem cronológica, pertencentes a um longo período do judaísmo desde o segundo templo até a era crista. A divisão dos livros de I Enoque Etíope é a seguinte:
           
Livro dos Vigilantes (6-36);
            Parábolas de Enoque (37-71);
            Livro Astronômico (72-82);
            Livro dos Sonhos {com o apocalipse dos Animais] (83-90);
            Epístola de Enoque (91-105).

Para Collins (p.81), o livro pode ser dividido em três seções principais: capítulos 1-5 constituem uma introdução, caracterizada como as “palavras da benção de Enoque, segundo as quais ele abençoou os escolhidos e justos que estarão presentes no dia da aflição”; os capítulos 6- 16 são uma reelaboração da história dos “filhos de Deus” em Gênesis 6; e os capítulos 17-36 descrevem início e fim de sua viagem celestial e a conclusão do Livros dos Vigilantes.
Terra (2014, p.27) explica, que existem outras propostas de divisão do livro, Vanderkam (1984) faz uma divisão ainda mais complexa. Ele divide os capítulos do Livro dos Vigilantes da seguinte maneira:
            1-5:      Uma repreensão escatológica
            6-11:    História sobre a descida dos anjos e pecado
            12-16:  Enoque e a petição dos Vigilantes
            17-19:  Primeira jornada de Enoque
            20-36:  Segunda jornada de Enoque

Iremos focar neste trabalho, os capítulos 6-11 que narram a história da descida dos anjos denominados “Vigilantes”, o pecado e a consequente queda. De acordo com o texto dos capítulos 6-11, um grupo de seres angelicais, nomeados de Vigilantes, sentiram-se atraídos pela beleza das filhas dos homens, mulheres, e conspiraram entre si sob a liderança de Semiaza, com o propósito de possuírem-nas. Como afirma I Enoque:
Quando os filhos dos homens se multiplicaram, naqueles dias, nasceram-lhes filhas bonitas e graciosas. E os vigilantes, filhos do céu, ao verem-nas, as desejaram e disseram entre si: “Venham, escolhamos para serem as nossas esposas as filhas dos homens, e tenhamos filhos! ” Disse-lhes então o seu chefe Semiaza: “Eu receio que vós não queirais realizar isso, deixando-me no dever de pagar sozinho o castigo de um grande pecado”. Eles responderam-lhe e disseram, “Nós todos estamos dispostos a fazer um juramento, comprometendo-nos a uma maldição comum, mas não abrir mão do plano, e assim executá-lo. ” Então eles juraram conjuntamente, obrigando-se a maldição que a todos atingiriam. Eram ao todo duzentos os que, nos dias de Jared, haviam descido sobre o cume do monte Hermon. Chamaram-no Hermon porque sobre ele juraram e se comprometeram a maldições comum. (I Enoque 6,1-5).
A maioria dos pesquisadores modernos, admitem que a dependência da tradição enoquita, utilizou-se do texto de Genesis 6, ou de uma parte antiga, para adequar suas propostas teológicas da origem do mal e dos pecados da Terra. O mito dos Vigilantes, assim como Gênesis, narram a má ação pré-diluviana.
E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas. Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama. (Gn 6,1-4) João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida (JFARC)

Outra consequência do contato dos vigilantes com os seres humanos, foi o ensino de atividade, tais como: a arte da metalurgia e da confecção de armas, às mulheres ensinaram a maquiagem, a ornamentação, a adivinhação, a magia, os encantamentos, a astrologia e o cultivo das raízes, conforme diz o texto:
Azazel ensinou aos homens a arte de fabricar espadas, facas, escudos, armadura peitoral e técnicas de metais, braceletes e adornos; como pintar os olhos e embelezar as sobrancelhas. Entre as pedras preciosas, escolher as mais caras e preciosas, e a metalurgia. Houve grande impiedade e muita fornicação, e corromperam-se os bons costumes. (8,1-3).
Junta-se a esses ensinamentos, outra relação elaborada por Nogueira (2006, p.145-155) em seu didático inventário dos ensinamentos dados pelos anjos, e seus respectivos nomes presentes dados na narrativa, a seguir:
Azazel: a metalurgia (para fabricar armas) e a cosmética.
Amerazak: Magia (encantamentos e raízes)
Armaros: como anular encantamentos
Baraquiel: os astrólogos
Kokabiel: os signos
Tamiel: astrologia
Asradel: o ciclo lunar.
O texto narra a história do relacionamento sexual dos anjos vigilantes com as mulheres. Dessa união proibida nascem gigantes, seres híbridos incontroláveis que comem todo o alimento da terra e posteriormente alimentam-se dos seres humanos (7, 1-6). O derramamento faz com que a humanidade clame a Deus (8,4). Segundo o texto os anjos Miguel, Sariel, Rafael e Gabriel, intercedem a Deus a favor da humanidade (I Enoque 9). Após tal episódio, a narrativa continua com a seguintes ordens divinas: Sariel é enviado por Deus para avisar Noé do julgamento divino que viria sobre o mundo. Deus envia Rafael para prender Azazel nas profundezas do deserto, até o julgamento final (10, 4-6); Gabriel é enviado para destruir sem piedade os gigantes (10,4-12);
Para Gabriel disse o Senhor: “vá a eles, os bastardos [gigantes] à raça mestiça, filhos da fornicação, e aniquila os filhos dos vigilantes que estão entre os homens. Coloca-os uns contra os outros, para que se mantem mutuamente. Não se prolongue mais os dias de suas vidas!”
Ao anjo Miguel, Deus ordena que prenda Semiaza e os anjos rebeldes. A narrativa (10, 11-15) diz que eles devem ser presos por sete gerações nos vales profundos da terra, até o juízo final. Por fim, os gigantes são condenados à destruição (14,5). Todavia, seus espíritos são liberados e transformam-se em espíritos malignos gerando uma vasta proliferação de demônios.
Agora, os gigantes nascidos da união de espirito com carne serão chamados de espíritos malignos na terra e sobre a terra. Os espíritos dos gigantes, os Nefilins oprimem, corrompem, atacam, pelejam, promovem a destruição; comem e não se fartam; bebem e não matam a sede. Esses espíritos atacam homens e mulheres, pois desses procederam (...). Aonde quer que haja sido os espíritos de seu corpo, pereça sua carne até o dia da grande consumação do juízo, com a qual o universo perecerá com os vigilantes e ímpios. (15, 8-16, 1).

Para Terra (2014, p. 51), o Livro dos Vigilantes tem características marcantes de uma teodiceia. Segundo o autor, ele responde sobre o mal no mundo, junto a essa temática aparece a dos ilícitos ensinamentos celestes. É um consenso geral entre os estudiosos, que I Enoque 6-11 é uma junção de dois ciclos diferentes de tradições sobre a queda de anjos, cujos Semiaza e Azazel são identificados como líderes. Para Nickelsburg, essas tradições explicam a causa do surgimento do mal no mundo, os eventos de desvendar os segredos da metalurgia, magia, encantamentos, astrologia, trouxeram a impureza, os ensinamentos impróprios e a violência; bem como o casamento com mulheres – nascimento de gigantes – devastação da terra pelos gigantes são uma forma de explicar o mal no plano divino. Para Collins (1982, p.98) o Mito dos Vigilantes e suas tradições “refletem algum tipo de crise”, além da explicação do mal sobre o mundo.
Os textos enoquita testemunham que o mal e a impureza no mundo são resultado de uma rebelião angelical. Nos textos citados, encontramos o tema do demoníaco ligado ao imaginário dos anjos caídos, a informação de que os espíritos dos gigantes se tornaram os espíritos maus com características demoníacas, pois oprimem, corrompem, atacam, etc. Collins (1997b, p.31) conclui: “desta forma a revolta dos vigilantes tornou-se a maior causadora da existência dos maus espíritos, por implicação, do pecado na humanidade”.

A história dos Vigilantes é o fundamento de uma tradição maior de Enoque. Sua forma primaria I Enoque 6-11, foi relida e aumentada na própria tradição enoquita e posteriormente nas tradições judaicas e cristãs. O tema da origem do mal é central no mito. Este trabalho, pretende analisar algumas das contribuições do desenvolvimento imagético dessa tradição na religiosidade judaica e posteriormente cristã. E como se desenvolveu a figura dos demônios, mais especificamente dos espíritos imundos.

A referências bibliográficas serão informadas com a parte 3.