Na estrutura do Apocalipse de João
o capítulo 1 funciona como um prólogo, o visionário João é arrebatado em
espírito e tem uma audição com um ser celestial, o conteúdo dessas revelações
fornecerão as bases das cartas as sete igrejas da Ásia, mencionadas nos
capítulos 2 e 3.
No capítulo 4, 1-11 Aqui começa a
revelação propriamente dita, o arrebatamento deixa a esfera terrestre e passa
para a dimensão celestial. O quarto e quinto capítulo apresentam o cenário
celestial das visões, Deus assentado no seu trono, junto dele o séquito
celestial composto de vinte e quatro anciãos sentados em seus tronos e quatro
animais que não descansavam nem de dia e nem de noite, glorificando a Deus
cantando “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que é,
e que há de vir”. Enquanto isso os anciãos prostrados o adoravam com mais
doxologia.
Ao interpretar a visão, o
visionário faz uso dos elementos conhecidos no judaísmo. Ao citar 4.2 “um trono
posto no céu” João faz uma releitura de Is 6.1; Jr 17.12; Ez 1.26; 10.1 e Dn
7.9. Em Ap 4.5 ele relembra em Êxodo 19.16 o encontro de Moises com Deus no
Sinai; ao citar nesse versículo “as sete lâmpadas de fogo” se reporta ao
tabernáculo 2 Cr 4.20; Ez 1.13 e Zc 4.2.
O capítulo 5 é continuação do
capítulo 4. O cenário é o mesmo, as personagens também. João tem a preocupação em descrever
o que ocorre diante do trono. No versículo 1 aparece um livro é um livro
especial, escrito dos dois lados e selado com sete selos, sinal da sua
inviolabilidade. Ninguém é digno de abrir o livro e desatar os seus selos. João
chora, muito. Até que alguém apresenta duas soluções messiânicas, entra em cena
“o leão da tribo de Judá” e a “Raiz de Davi”. João olha procurando o leão, mas
ele vê um cordeiro que foi morto. Pela primeira vez o visionário apresenta o
“cordeiro” que tem na simbologia judaica dois significados: a) O cordeiro é
pacifico. Eles esperavam um libertador guerreiro como Davi, um libertador
nacional. Ao citar o cordeiro, João faz uma releitura de Is 53.7 “como um cordeiro foi levado ao
matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não
abriu a sua boca.” E b) O cordeiro é o substituto, na teologia judaica o
cordeiro tomava o lugar do homem pecador; Gn 22 e Ex 12; Jo 1,29 “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo”.
O culto continua, com a
entronização do Cordeiro, as doxologias são iniciadas pelos anciãos que se
prostram em adoração, seguido pelos anjos ao redor do trono, a seguir pelos
animais o número agora é de milhões de milhões e milhares de milhares. Até que
o cosmo representado pelas criaturas que estão no céu, na terra, e embaixo da
terra e no mar o adoram.
Estrutura proposta para essa
perícope.
5.1: Visão do trono.
5.2-3: O rolo inviolável.
5.4-5: Desespero do visionário.
5.6-7: O Cordeiro que é digno.
5.8-14: Inicio do culto ao
Cordeiro.
5.8: Adoração dos vinte e quatro anciãos.
5.11: Adoração das miríades de anjos.
5.13: O cosmo se prostra diante da sua glória e o adora.
Comparando com o âmbito metafórico
de Daniel 12 vemos que o Apocalipse de João capítulo 5 é uma releitura da
promessa da ressurreição citada no versículo 2 de Daniel, “para todo aquele que
se achar escrito no livro”. No versículo 9 esse mesmo livro é selado “ E ele
disse: Vai, Daniel porque estas palavras estão fechadas e seladas até o fim dos
tempos”. O fim dos tempos está agora sendo desvendado na revelação de Joao. O
livro é o mesmo que foi selado e só pode ser aberto no fim dos tempos. Nele
contém a vida e a morte, a história da humanidade, todos em todos os tempos
ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno.
Neste contexto lembramos a influência persa no judaísmo do segundo tempo com de
dualidade, de vida e morte, juízo escatológico, finais dos tempos, julgamento
final, aniquilamento do mal, felicidade eterna para os justos e a noção de
ressurreição. Pensamentos muito comum no apocaliptismo extra canônico do
judaísmo posterior.
O livro de Daniel versículo 13
fecha com uma dramática exclamação “vai até ao fim; porque repousarás e estarás
na tua sorte, no fim dos dias”. É uma incógnita, a expressão estarás na tua
sorte, é no mínimo desesperançosa. Entendo que o homem estava por sua própria
conta. Talvez isso se deve ao fato do cumprimento da lei, como explica o livro
de Romanos do capítulo 1 ao 7.
Essa desesperança também e
demonstrada nos primeiros veículos do Apocalipse de João “quem é digno de abrir
o livro e desatar os seus selos”. Por fim em João temos a resposta de todas as
duvidas e perguntas da humanidade, não estamos por conta da nossa própria sorte
(como em Daniel), o Cordeiro é digno de restaurar a humanidade caída.