quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Comentário Exegético do Apocalipse de João 4 e 5 e Daniel 12

Na estrutura do Apocalipse de João o capítulo 1 funciona como um prólogo, o visionário João é arrebatado em espírito e tem uma audição com um ser celestial, o conteúdo dessas revelações fornecerão as bases das cartas as sete igrejas da Ásia, mencionadas nos capítulos 2 e  3.

No capítulo 4, 1-11 Aqui começa a revelação propriamente dita, o arrebatamento deixa a esfera terrestre e passa para a dimensão celestial. O quarto e quinto capítulo apresentam o cenário celestial das visões, Deus assentado no seu trono, junto dele o séquito celestial composto de vinte e quatro anciãos sentados em seus tronos e quatro animais que não descansavam nem de dia e nem de noite, glorificando a Deus cantando “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir”. Enquanto isso os anciãos prostrados o adoravam com mais doxologia.

Ao interpretar a visão, o visionário faz uso dos elementos conhecidos no judaísmo. Ao citar 4.2 “um trono posto no céu” João faz uma releitura de Is 6.1; Jr 17.12; Ez 1.26; 10.1 e Dn 7.9. Em Ap 4.5 ele relembra em Êxodo 19.16 o encontro de Moises com Deus no Sinai; ao citar nesse versículo “as sete lâmpadas de fogo” se reporta ao tabernáculo 2 Cr 4.20; Ez 1.13 e Zc 4.2.

O capítulo 5 é continuação do capítulo 4. O cenário é o mesmo, as personagens também. João tem a preocupação em descrever o que ocorre diante do trono. No versículo 1 aparece um livro é um livro especial, escrito dos dois lados e selado com sete selos, sinal da sua inviolabilidade. Ninguém é digno de abrir o livro e desatar os seus selos. João chora, muito. Até que alguém apresenta duas soluções messiânicas, entra em cena “o leão da tribo de Judá” e a “Raiz de Davi”. João olha procurando o leão, mas ele vê um cordeiro que foi morto. Pela primeira vez o visionário apresenta o “cordeiro” que tem na simbologia judaica dois significados: a) O cordeiro é pacifico. Eles esperavam um libertador guerreiro como Davi, um libertador nacional. Ao citar o cordeiro, João faz uma releitura de  Is 53.7 “como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” E b) O cordeiro é o substituto, na teologia judaica o cordeiro tomava o lugar do homem pecador; Gn 22 e Ex 12; Jo 1,29 “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

O culto continua, com a entronização do Cordeiro, as doxologias são iniciadas pelos anciãos que se prostram em adoração, seguido pelos anjos ao redor do trono, a seguir pelos animais o número agora é de milhões de milhões e milhares de milhares. Até que o cosmo representado pelas criaturas que estão no céu, na terra, e embaixo da terra e no mar o adoram.

Estrutura proposta para essa perícope.
5.1:      Visão do trono.
5.2-3:   O rolo inviolável.
5.4-5:   Desespero do visionário.
5.6-7:   O Cordeiro que é digno.
5.8-14: Inicio do culto ao Cordeiro.
5.8:      Adoração dos vinte e quatro anciãos.
5.11:    Adoração das miríades de anjos.
5.13:    O cosmo se prostra diante da sua glória e o adora.

Comparando com o âmbito metafórico de Daniel 12 vemos que o Apocalipse de João capítulo 5 é uma releitura da promessa da ressurreição citada no versículo 2 de Daniel, “para todo aquele que se achar escrito no livro”. No versículo 9 esse mesmo livro é selado “ E ele disse: Vai, Daniel porque estas palavras estão fechadas e seladas até o fim dos tempos”. O fim dos tempos está agora sendo desvendado na revelação de Joao. O livro é o mesmo que foi selado e só pode ser aberto no fim dos tempos. Nele contém a vida e a morte, a história da humanidade, todos em todos os tempos ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno. Neste contexto lembramos a influência persa no judaísmo do segundo tempo com de dualidade, de vida e morte, juízo escatológico, finais dos tempos, julgamento final, aniquilamento do mal, felicidade eterna para os justos e a noção de ressurreição. Pensamentos muito comum no apocaliptismo extra canônico do judaísmo posterior.

O livro de Daniel versículo 13 fecha com uma dramática exclamação “vai até ao fim; porque repousarás e estarás na tua sorte, no fim dos dias”. É uma incógnita, a expressão estarás na tua sorte, é no mínimo desesperançosa. Entendo que o homem estava por sua própria conta. Talvez isso se deve ao fato do cumprimento da lei, como explica o livro de Romanos do capítulo 1 ao 7.

Essa desesperança também e demonstrada nos primeiros veículos do Apocalipse de João “quem é digno de abrir o livro e desatar os seus selos”. Por fim em João temos a resposta de todas as duvidas e perguntas da humanidade, não estamos por conta da nossa própria sorte (como em Daniel), o Cordeiro é digno de restaurar a humanidade caída.