sábado, 25 de abril de 2015

As Tradições dos Patriarcas

AS TRADIÇÕES DOS PATRIARCAS

Todos os cristãos conhecem a história dos patriarcas narrada no livro de Gênesis. No começo Deus chama a Abrão da terra dos seus pais e lhe faz uma promessa, e assim começa uma relação familiar com Deus. Com o tempo, aquela família frutificou e se multiplicou enormemente, crescendo até formar o povo de Israel. Essa é a primeira grande saga da Bíblia, um conto de sonhos de imigrantes e promessas divinas, que serve como uma brilhante e inspiradora abertura para a história subsequente da nação de Israel. Abraão foi o primeiro dos patriarcas e o recebedor da promessa divina da terra e de abundantes descendentes, promessa essa que foi transportada através de gerações por seu filho Isaque e por Jacó, também conhecido como Israel, filho de Isaque. Entre os 12 filhos de Jacó, dos quais dez se tornariam patriarcas de dez tribos e um daria origem a outras duas, coube a Judá a honra especial de guiar a todos.

Segundo os autores Israel Finkelstein, e Neil Asher Silberman, em seu livro A Bíblia Desenterrada: Uma Nova Visão Arqueológica do Antigo Israel e da Origem de seus Textos Sagrados. No Brasil foi publicado com o título “A Bíblia Não Tinha Razão,” pela editora A Girafa, São Paulo, 2003, que antes de descrever as prováveis circunstâncias históricas e de tempo nas quais a narrativa dos patriarcas bíblicos foi inicialmente tecida a partir de fontes mais antigas, é fundamental explicar por que tantos estudiosos, durante os últimos cem anos, se convenceram de que as narrativas dos patriarcas eram, pelo menos em resumo, verdadeiras, sob o ponto de vista histórico.
A Bíblia narra a história antiga de Israel em ordem sequencial, dos patriarcas ao Egito, ao Êxodo, à caminhada pelo deserto, à conquista de Canaã, à época dos Juízes e ao estabelecimento da monarquia; também fornece uma chave para calcular datas específicas. A pista mais importante é uma observação no 1 Rs 6,1 de que o Êxodo aconteceu 480 anos antes que a construção do Templo começasse em Jerusalém, no quarto ano do reinado de Salomão. Além disso, o Êxodo 12,40 afirma que os israelitas suportaram 430 anos de cativeiro no Egito antes do Êxodo. Somando um pouco mais de duzentos anos para a superposição da duração de vida dos patriarcas em Canaã, antes que os israelitas partissem para o Egito, chegamos a uma data bíblica por volta de 2100 a.C. para a partida original de Abraão para Canaã.

Naturalmente, existem alguns problemas evidentes para a aceitação dessas datas no que se refere à reconstrução histórica precisa, inclusive à extraordinária duração das vidas de Abraão, Isaque e Jacó, todas longas, que excederam os cem anos. Além do mais, as genealogias posteriores que delinearam os descendentes de Jacó eram confusas, se não abertamente contraditórias. Moisés e Araão, por exemplo, eram identificados como a quarta geração descendente de Levi, filho de Jacó (Ex 6:18), enquanto Josué, um contemporâneo de Moisés e Araão, foi declarado como duodécima geração descendente de José, outro dos filhos de Jacó (1 Cr 7:22-27) . Essa, por certo, não era uma discrepância secundária.

A estrutura narrativa do Pentateuco apresenta Abraão, Isaque e Jacó como patriarcas de Israel. Essa apresentação não pode corresponder à realidade histórica. Nenhum povo é descendente de um único patriarca ou uma única família. Parece que a função de patriarcas tampouco é o papel original dessas figuras. Chama a atenção já o modo com que foi composta a genealogia. No início, ela segue em linha reta até Jacó, depois se subdivide em 12 filhos = tribos. Se o Israel posterior quisesse derivar sua descendência de um único patriarca, teria sido suficiente construir uma genealogia de Jacó = Israel – 12 filhos = tribos. Nessa genealogia seria desnecessário começar com Abraão e Isaque. Portanto, na formação dessa tradição, o interesse genealógico não é primário. Salvo sua atual função genealógica, as figuras devem ter tido um significado anterior e original. A linha genealógica é apenas uma parte da estrutura que é, também nesse aspecto, secundária. Essa compreensão nos obriga a analisar as distintas tradições separadamente. Em seguida, chamam a atenção as seguintes características: Abraão, Isaque e Jacó são apresentados como não sedentários. Seu modo de vida é o de pastores nômades com rebanhos de pequeno porte (ovelhas e cabras). Ainda não são nômades criadores de camelos, mas pertencem àqueles seminômades que vivem em transumância; isso se pode deduzir claramente do colorido que caracteriza a camada mais antiga dessas tradições. Segundo o teólogo alemão Gunneweg - História de Israel pg 44.

Entende-se hoje que as narrativas de Abraão têm sua vinculação geográfica local com um santuário no sul, em Manre, perto de Hebron. No entanto, é possível que se trate de uma transferência do motivo de Isaque para Abraão. De modo geral, a tradição de Abraão foi amplamente recheada com motivos da tradição de Isaque, de modo que aquela cresceu muito, em detrimento desta. Com base nessas tradições, podemos dizer que Abraão  encontrou seu lugar no extremo sul, e isso significa que o círculo que cultuou o Deus de Abraão se estabeleceu ali e enraizou também nesse local essas tradições que haviam trazido consigo. O processo da tradição histórica que absorveu a tradição de Isaque dentro da de Abraão reflete um processo histórico: o grupo de Abraão encontrou no sul o grupo de Isaque, que já se tornara sedentário, e se apossou das tradições deste.
A tradição de Isaque, que ficou bem reduzida, ainda pode ser localizada com relativa segurança. Em Gênesis 26, o compêndio das tradições de Isaque, aponta claramente para o sul, para os limites da terra cultivada, onde o grupo de Isaque conseguiu ficar com algumas fontes. A região onde Isaque viveu com os seus em um período de fome é mencionada a vizinhança da cidade de Gerar, aproximadamente a 20 km ao noroeste da região das fontes de Berseba. O que é apresentado na saga como uma estadia única por ocasião de uma fome única pode ser interpretado com em referência a uma região que era, em geral, o lugar do pastoreio do clã de Isaque nos períodos da estiagem do verão.

A questão mais complicada é a da localização da tradição de Jacó. Essa figura da tradição parece pertencer, primeiramente, à região das tribos posteriores da Palestina central, em Siquém e Betel (Gn 28.11ss; 33,18; 35,9ss; 48,22). Além disso, existe uma outra tradição proveniente da Transjordânia (Gn 32,1ss; cf 31,4422; 50,10s). Embora os dois complexos de tradições tenham sido entrelaçados artisticamente pela fuga de Jacó para a Transjordânia, sua estadia lá e sua volta para o oeste, é evidente que originalmente eles eram complexos diferentes.
Assim como os grupos de Isaque e Abraão encontraram um lar no sul, assim também o grupo de Jacó encontrou um na região central da Palestina em torno de Síquem e Betel. Em tempos posteriores colonos efraimitas passaram do oeste para o outro lado do Jordão e adaptaram suas tradições a respeito de Jacó às novas condições da nova terra onde moravam.
Israel assume as tradições dos patriarcas pré-israelitas. O Deus dos pais, já antigamente identificado com o Deus El, cultuado em diversos santuários locais, fundiu-se com Yahweh, o Deus de Israel. Desse modo, as narrativas dos patriarcas refletem um período histórico de três a quatro séculos que vai desde a primeira fase da tomada da terra até o trabalho teológico dos escribas, conclui Gunneweg.

Bibliografia
História de Israel –Gunneweg – Editora Loyolla – coleção Serie Biblioteca de Estudos do Antigo Testamento - São Paulo, 2005
A Bíblia não tinha razão -  Israel Finkelstein, e Neil Asher Silberman, editora A Girafa, São Paulo, 2003.

Uma Perspectiva Arqueológica

A LEITURA BÍBLICA A PARTIR DE UMA NOVA PERSPECTIVA, 
UMA PERSPECTIVA ARQUEOLÓGICA.

Nos últimos anos a arqueologia tem tido um papel determinante no estudo da Bíblia, ou melhor, no estudo da história e pré-história de Israel.

No passado a arqueologia nas terras da Bíblia era feita com uma mão na picareta e outra na Bíblia, ou seja, os arqueólogos entravam nos sítios buscando aquilo que estava escrito na Bíblia e obviamente com uma opinião já formada. Como os resultados foram insatisfatórios, nas últimas duas décadas se fechou a Bíblia e se fez arqueologia.  Nessa mudança de conceito os pesquisadores resolveram escavar os sítios arqueológicos (Telin em hebraico), sem a necessidade de provar nada e depois comparar os resultados com a Bíblia se bater ótimo, caso contrário o problema seria dos biblistas e exegetas.

Com isso nasceu uma grande reviravolta na pré-história e na história de Israel.

Portanto, a arqueologia não substitui o texto, mas o auxilia. E, assim, deve ser. É  comum, nos últimos anos, estudiosos do mundo bíblico afirmarem que as recentes descobertas arqueológicas contradizem o texto bíblico, porque apresentam outras verdades. Isso não é correto. A Bíblia vê e narra a realidade com a preocupação de mostrar a ação de Deus na história, coisa que a arqueologia não tem como escavar. Sua função é de fazer a leitura preliminar da sociedade, da maneira mais neutra possível.
A partir daí, os exegetas devem adentrar ao texto bíblico. O que não se pode fazer, para uma boa exegese, é cometer o disparate de ignorar as descobertas arqueológicas. (Milton Schwantes).

Uma das novidades da descoberta arqueológica está em 1 Rs 13:1-2
 “E eis que, por ordem do SENHOR, veio, de Judá a Betel, um homem de Deus; e Jeroboão estava junto ao altar, para queimar incenso.
E ele clamou contra o altar por ordem do Senhor, e disse: Altar, altar! Assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que sobre ti queimam incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti.
Essa é uma profecia incomparável, porque o “homem de Deus” revelou o nome do rei de Judá que três séculos depois ordenaria a destruição daquele mesmo santuário, matando todos os seus sacerdotes e profanando o altar com os seus restos. É algo como ler a história da escravidão na America colonial do século XVIII na qual houvesse uma passagem predizendo o nascimento de Martin Luther King. E isso não é tudo; Jeroboão ficou profundamente abalado com essa profecia, e pouco depois seu filho Abias caiu doente. Logo depois, a mulher de Jeroboão foi ao antigo lugar de culto em Silo, para falar com o profeta Aías, o mesmo que tinha previsto que Jeroboão reinaria sobre todas as tribos do norte. Aías não teve palavras para consolar a mãe preocupada. Em vez disso, ele fez uma quarta profecia, uma das mais arrepiantes da Bíblia: ver 1 Rs 14:7-16.
A precisão da primeira profecia do “homem de Deus” denuncia a época em que foi escrita. O rei da casa de Davi, Josias, que conquistou e destruiu o altar em Betel viveu no final do século VII a.C. Por que uma história que tem lugar no século X a.C. precisa usar uma figura de um futuro tão distante? Qual é a razão para descrever o que um rei justo e honrado chamado Josias vai fazer? A resposta é a mesma que sugerimos, explicando por que as histórias dos patriarcas, do Êxodo e da conquista de Canaã são repletas de alusões ao século VII. O fato inevitável é que os livros dos Reis são tanto um apaixonado argumento religioso – escrito no século VII a.C. – como são também obras de história, diz Filkenstein.
Com isso queremos dizer que a arqueologia começa a mostrar que os textos bíblicos assim como a grandeza de Judá começam acontecer a partir do reinado de Josias. A idéia defendida pelos arqueólogos é a de que a Bíblia – Genesis, Êxodo, Números, Levíticos, Deuteronômio, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis - foi um produto da reforma religiosa feita pelo rei Josias no século VII AC. Resultou de uma compilação de memórias, lendas, contos e outras informações que circulavam na época. O núcleo histórico dessa obra, realizada pelos rabinos israelenses, a mando do rei Josias.
Os arqueólogos Finkelstein e Siberman sustentam que sua visão é proveniente das recentes descobertas arqueológicas, que segundo eles, "revolucionaram o estudo do Israel primitivo e lançaram sérias dúvidas sobre as bases históricas das tão famosas histórias bíblicas como as peregrinações dos patriarcas, o Êxodo do Egito, a conquista de Canaã e o glorioso império de Davi e Salomão.” Assim, pretendem os autores contar "A história do antigo Israel e o nascimento de suas escrituras sagradas a partir de uma nova perspectiva, uma perspectiva arqueológica, separando a história da lenda”.
Explicam que o seu trabalho resultou de uma comparação feita entre a narrativa bíblica e os dados arqueológicos coletados nas últimas décadas. O resultado foi a descoberta de uma relação complexa e fascinante entre o que realmente aconteceu na Palestina durante o período bíblico e os acontecimentos narrados na Bíblia. E com base nessas informações concluem que a maior parte do Pentateuco é uma criação da monarquia judaica, elaborada em defesa da ideologia e necessidades do reino de Judá. Daí a conclusão que a Bíblia foi resultado de uma compilação feita a partir do tempo do rei Josias [640-609 a.C.], para oferecer uma legitimação ideológica para ambições políticas e reformas religiosas específicas, promovidas por aquele rei. 










sexta-feira, 24 de abril de 2015

Apresentação do Blog

Este blog foi desenvolvido para quem ama a Palavra de Deus e tem sede de conhecimento, tendo por finalidade trazer as descobertas bíblicas que se discute no mundo acadêmico. 

O blog abrangerá a princípio a pré-história e a história de Israel, sua ênfase será no estudo arqueológico do mundo bíblico em comparação com os escritos veterotestamentários.

Para tal, acompanharemos o incansável trabalho, desenvolvido nos últimos 20 anos, de pesquisas científicas dos mais renomados arqueólogos, historiados, exegetas e eruditas bíblicos.

A finalidade será o seu crescimento cristão, teremos oportunidade para expandirmos juntos esses conhecimentos através de perguntas e respostas, com um agradável bate papo.

Toda publicação será baseada e documentada em biografias e edições com crédito para as respectivas fontes.

Seja bem-vindo.

A Deus toda Glória