Uma reflexão sobre a auto-exaltação.
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas
esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos
homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente
até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e
lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre
todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a
língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.
Filipenses 2,5-11
Filipenses 2,5-11
Filipos era uma cidade da Macedônia fundada por
Felipe II, pai de Alexandre o Grande, no ano de 356 a.C. Em 42 a.C., com imperador romano Otaviano, inicia-se uma grande
colonização, o que a tornou uma cidade importante
do Império Romano. Considerada uma porta de entrada da Europa em relação aos visitantes
provenientes da Ásia. Filipos tornou-se
uma colônia militar romana, onde se assentavam principalmente veteranos, e a cidade
acabou ganhando status de Colônia Augusta
Júlia Philippensis[1],
o que a tornava uma réplica menor de Roma. Seus cidadãos tinham cidadania romana
e possuíam inclusive direitos de propriedade equivalentes aos de uma terra em
solo italiano. Os oficiais políticos eram descendentes dos soldados romanos, o
que reforçava ainda mais o caráter latino da cidade, refletindo também seu
pensamento e religião. Eram frequentes os cultos às divindades romanas, como Júpiter, Juno e Marte, à
antigos deuses italianos
e ao culto do Imperador.
A Epístola de Paulo aos Filipenses foi escrita por
volta do ano 53 a 58 d.C., conforme a tradição cristã, durante o período que o
apóstolo Paulo provavelmente estava em
Éfeso. Éfeso foi o cenário inspirador para a teologia paulina, lá se encontrava
o templo a duas divindades, a deusa Roma e o deus Julius Cesar. Lá também
escavadores encontraram artefatos que sugerem o casamento de Augusto com
Artêmis[2], ou seja, de
Roma com Éfeso. Nesse cenário de divinização e auto-glorificação de Cesar, Paulo
fala do verdadeiro Deus que se auto-esvazia da sua glória. Enquanto Cesar se
diviniza pela dominação, Jesus o faz pela crucificação.
Nesta
afetuosa epístola, Paulo elogia os filipenses por sua fé em Jesus e por seu
apoio, os ajuda a centralizar a vida em Cristo e a estar contentes em todas as
situações, ser fortes em oração e
imitar com alegria o exemplo de seu Salvador, Jesus Cristo.
O
propósito do Apóstolo Paulo ao escrever essa carta, era incentivar a igreja a
se alegrar. Paulo mostra que mesmo preso ele se alegrava, e que devemos nos
alegrar independente de qual seja as circunstancias.
A
perícope de Filipenses 2:5-11 pode ter sido um hino cristão, uma kenosis
(esvaziamento) de Jesus, o Cristo. O hino fala do humilde
dos humildes, alguém que não se identificou com a escravidão, mas que revela a
vontade libertadora do Deus transcendente.[3] Paulo
instrui os filipenses a ter a mente de
Cristo, servirem bem uns aos outros, deixando seus próprios
desejos pelo bem comum de todos os santos, eles teriam que aprender a ser
desprendidos de bens materiais. Muitos reinos tinham caído por causa do egoísmo e da ganância.
Mas o reino do céu estava estabelecido no serviço desinteressado aos outros.
Jesus Cristo -- o próprio Rei -- veio como um servo (vs. 6-7), e serviu a toda
a humanidade vivendo sem pecado e morrendo numa cruz. Se Jesus pode humilhar-se
para descer do céu e servir os homens, estes podem humilhar-se para descer de
seu orgulho e servir os outros. O tema “servo sofredor” Isaias 53 está habitualmente
ligado a esse texto, refere-se ao Messias. Ele é
altamente exaltado e diante do qual os reis fecharão a boca. O Messias é o
renovo que surgiu da caída dinastia davídica. Ele se tornou o Rei dos Reis. Ele
forneceu a expiação final. Paulo fala dele em 2 Coríntios 8:9 onde lemos: “Porque
já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza
enriquecêsseis”.
A mensagem de Filipenses 2,5-11, nos mostra como vivermos o
propósito de Deus, necessitamos viver o modelo estabelecido por ele, para
alcançarmos a vontade de Deus. Olhar para Cristo “autor e consumador da nossa
fé” e nosso exemplo. Em Romanos 8:29 diz “Porque os que dantes conheceu também
os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos”. Jesus é a qualidade que temos que alcançar em nossa jornada. Ele é o
alvo, o modelo estabelecido pelo Pai. O sentimento que houve em Cristo é o
mesmo que deverá existir em nós. Temos que nos ajustar a Ele para que Deus seja
glorificado.
Jesus subsistindo em forma de Deus, Nele habitava a plenitude
de Deus: “o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”,
“porque aprouve a Deus que nele habitasse a plenitude” Colossenses 1.15 e 19. O
Deus Todo-Poderoso se fez homem e habitou entre nós.
A obra de Cristo foi tão maravilhosa, que mesmo sendo Deus
agiu como servo. Normalmente nós sabemos que um deus recebe o
serviço dos seus servos. As pessoas quando possui algum deus elas entregam as
suas devoções em serviço a este deus. Fazem um altar, um trono, ofertas, isto é,
tudo aquilo que vai reverenciar ao tal deus. Aquilo que este deus exigir será
feito pelos seus súditos. Mas Cristo não usou de autoritarismo e nem explorou
os fracos.
Cristo se
esvaziou. Esvaziar significa desocupar o
espaço, tirar a importância. Jesus tirou de si a importância de ser Deus, Ele
desocupou o lugar de Deus. Esse sentimento tem que prevalecer em nossas vidas,
precisamos esvaziar o nosso ser.
Por que
os cristãos contemporâneos não seguem o exemplo de Cristo?
O mundo
prega o sentimento de auto-exaltação, mas o exemplo de Cristo é outro. As pessoas querem ser deuses, famosas,
grandes, egocêntricas, donas dos próprios caminhos, buscando cargos e usando
estes para usurpar outros, querem ser agradados, porém Deus nos leva a desocuparmos
de tudo. O esvaziar tem uma consequência em nossas vidas que é muito salutar,
faz cair o egoísmo que impera em nossos corações. Se humilhar é uma virtude que
nos dá um sentimento de nossa fraqueza. A humilhação como diz é uma virtude. Para
Deus é uma das maiores virtudes, pois ela mostrará que uma pessoa não é soberba
(orgulhosa) e se tem algo que Deus abomina é o soberbo.
Conheço um
ministro do evangelho que já foi pastor, depois bispo, apóstolo, agora se auto-denominou PRIMAZ, o meu
questionamento é: o que ele será no futuro para satisfazer o seu ego? Voltemo-nos as escrituras:
“E amam os primeiros
lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, E as saudações nas praças, e o serem chamados
pelos homens; Rabi, Rabi.”
Mateus 23:6,7
Mateus 23:6,7
Os
fariseus e os escribas usavam a religião para se promover diante dos homens,
quando havia banquetes eles procuravam sentar nos primeiros lugares, nas
sinagogas, que eram as igrejas da época, eles tinham lugares especiais. Quando
eles passavam nas ruas eles queriam ser cumprimentados pelos homens, mestre,
rabi, meu guia, doutor. Eles gostavam de títulos e gostavam que as pessoas se
dirigissem a eles usando esses títulos. Isso é ser religioso. Religioso é
aquele que pratica o cristianismo com o objetivo de ter primazia, controle,
espaço. É aquele que explora a religião com o objetivo de se promover. Tem muita
gente que explora o cristianismo para ganhar dinheiro, tá cheio de mercenário
no meio evangélico, gente que se aproveita da religiosidade das pessoas para
ganhar dinheiro. Seja se promovendo porque é um bom pregador, um bom
palestrante ou um bom cantor. Há muitas maneiras que as pessoas criam para
ganhar dinheiro em nome de Jesus. Mas tem gente que gosta de popularidade, mas
do que de dinheiro. Tem gente que pensa que o dinheiro é o ídolo maior de
todos, mas não, tem gente que não está preocupada com dinheiro, ele quer ser
popular, quer ser adorado pelas pessoas, quer estar em primazia, quer ser
respeitado pelas pessoas, quer que as pessoas olhem para ele ou ela com
admiração. Os fariseus gostavam dessas
duas coisas da auto-exaltação e do dinheiro.
“Vós, porém, não
queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e
todos vós sois irmãos.
E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque
um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um
só é o vosso Mestre, que é o Cristo”.
Mateus 23:8-10
Jesus sempre condenou esse apreço que o fariseu
tinha pelo primeiro lugar e pelas saudações que as pessoas davam para eles nas
sinagogas e nas praças. Tem pessoas que gostam disso ai, e você conhece o
religioso quando ele faz muita questão dessas coisas. E nós conhecemos muita
gente assim nas igrejas, principalmente na liderança. São pastores, bispos,
apóstolos que gostam de ser chamados assim, ou melhor, fazem questão desses
títulos. Todavia quando analisamos as escrituras notamos que Jesus sempre
evitou títulos, mestre, rabi. E sempre condenou a exaltação de pessoas no lugar
de Deus. A liderança que Deus coloca na igreja recebe dons espirituais para
servir a igreja e não para se colocar em destaque e ambicionar ser reverenciado
com títulos. Isso parece, mas não é cristianismo. Isso é religião quando exalta
o homem, a direção do comportamento da liderança cristã está em Mt 23:11 “O maior dentre vós será vosso servo”. Quer
ser grande, sirva. “E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que
a si mesmo se humilhar será exaltado".
Mateus 23:12.
Sigamos o exemplo de Jesus “que, sendo em
forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si
mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”. Isso é cristianismo.
[1] Schenelle, Udo – Paulo: Vida e Pensamento –p. 464
[2] At 19, 28-34 por duas vezes podemos ler “grande é a
Artêmis dos efésios.