terça-feira, 9 de junho de 2015

Cuidado!!!!! Com o que “Parece, mas não é!!!”

Uma reflexão sobre a auto-exaltação.

 “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.
Filipenses 2,5-11

Filipos era uma cidade da Macedônia fundada por Felipe II, pai de Alexandre o Grande, no ano de 356 a.C. Em 42 a.C., com imperador romano Otaviano, inicia-se uma grande colonização, o que a tornou  uma cidade importante do Império Romano. Considerada uma porta de entrada da Europa em relação aos visitantes provenientes da Ásia. Filipos tornou-se uma colônia militar romana, onde se assentavam principalmente veteranos, e a cidade acabou ganhando status de Colônia Augusta Júlia Philippensis[1], o que a tornava uma réplica menor de Roma. Seus cidadãos tinham cidadania romana e possuíam inclusive direitos de propriedade equivalentes aos de uma terra em solo italiano. Os oficiais políticos eram descendentes dos soldados romanos, o que reforçava ainda mais o caráter latino da cidade, refletindo também seu pensamento e religião. Eram frequentes os cultos às divindades romanas, como JúpiterJuno e Marte, à antigos deuses italianos e ao culto do Imperador.

A Epístola de Paulo aos Filipenses foi escrita por volta do ano 53 a 58 d.C., conforme a tradição cristã, durante o período que o apóstolo Paulo provavelmente estava  em Éfeso. Éfeso foi o cenário inspirador para a teologia paulina, lá se encontrava o templo a duas divindades, a deusa Roma e o deus Julius Cesar. Lá também escavadores encontraram artefatos que sugerem o casamento de Augusto com Artêmis[2], ou seja, de Roma com Éfeso. Nesse cenário de divinização e auto-glorificação de Cesar, Paulo fala do verdadeiro Deus que se auto-esvazia da sua glória. Enquanto Cesar se diviniza pela dominação, Jesus o faz pela crucificação.

Nesta afetuosa epístola, Paulo elogia os filipenses por sua fé em Jesus e por seu apoio, os ajuda a centralizar a vida em Cristo e a estar contentes em todas as situações, ser fortes em oração e imitar com alegria o exemplo de seu Salvador, Jesus Cristo.

O propósito do Apóstolo Paulo ao escrever essa carta, era incentivar a igreja a se alegrar. Paulo mostra que mesmo preso ele se alegrava, e que devemos nos alegrar independente de qual seja as circunstancias.

A perícope de Filipenses 2:5-11 pode ter sido um hino cristão, uma kenosis (esvaziamento) de Jesus, o Cristo. O hino fala do humilde dos humildes, alguém que não se identificou com a escravidão, mas que revela a vontade libertadora do Deus transcendente.[3] Paulo instrui os filipenses a ter a mente de Cristo, servirem bem uns aos outros, deixando seus próprios desejos pelo bem comum de todos os santos, eles teriam que aprender a ser desprendidos de bens materiais. Muitos reinos tinham caído por causa do egoísmo e da ganância. Mas o reino do céu estava estabelecido no serviço desinteressado aos outros. Jesus Cristo -- o próprio Rei -- veio como um servo (vs. 6-7), e serviu a toda a humanidade vivendo sem pecado e morrendo numa cruz. Se Jesus pode humilhar-se para descer do céu e servir os homens, estes podem humilhar-se para descer de seu orgulho e servir os outros. O tema “servo sofredor” Isaias 53 está habitualmente ligado a esse texto, refere-se ao Messias. Ele é altamente exaltado e diante do qual os reis fecharão a boca. O Messias é o renovo que surgiu da caída dinastia davídica. Ele se tornou o Rei dos Reis. Ele forneceu a expiação final. Paulo fala dele em 2 Coríntios 8:9 onde lemos: “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis”.

A mensagem de Filipenses 2,5-11, nos mostra como vivermos o propósito de Deus, necessitamos viver o modelo estabelecido por ele, para alcançarmos a vontade de Deus. Olhar para Cristo “autor e consumador da nossa fé” e nosso exemplo. Em Romanos 8:29 diz “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Jesus é a qualidade que temos que alcançar em nossa jornada. Ele é o alvo, o modelo estabelecido pelo Pai. O sentimento que houve em Cristo é o mesmo que deverá existir em nós. Temos que nos ajustar a Ele para que Deus seja glorificado.
Jesus subsistindo em forma de Deus, Nele habitava a plenitude de Deus: “o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”, “porque aprouve a Deus que nele habitasse a plenitude” Colossenses 1.15 e 19. O Deus Todo-Poderoso se fez homem e habitou entre nós.

A obra de Cristo foi tão maravilhosa, que mesmo sendo Deus agiu como servo. Normalmente nós sabemos que um deus recebe o serviço dos seus servos. As pessoas quando possui algum deus elas entregam as suas devoções em serviço a este deus. Fazem um altar, um trono, ofertas, isto é, tudo aquilo que vai reverenciar ao tal deus. Aquilo que este deus exigir será feito pelos seus súditos. Mas Cristo não usou de autoritarismo e nem explorou os fracos.

Cristo se esvaziou.  Esvaziar significa desocupar o espaço, tirar a importância. Jesus tirou de si a importância de ser Deus, Ele desocupou o lugar de Deus. Esse sentimento tem que prevalecer em nossas vidas, precisamos esvaziar o nosso ser.

Por que os cristãos contemporâneos não seguem o exemplo de Cristo?

O mundo prega o sentimento de auto-exaltação, mas o exemplo de Cristo é outro.  As pessoas querem ser deuses, famosas, grandes, egocêntricas, donas dos próprios caminhos, buscando cargos e usando estes para usurpar outros, querem ser agradados, porém Deus nos leva a desocuparmos de tudo. O esvaziar tem uma consequência em nossas vidas que é muito salutar, faz cair o egoísmo que impera em nossos corações. Se humilhar é uma virtude que nos dá um sentimento de nossa fraqueza. A humilhação como diz é uma virtude. Para Deus é uma das maiores virtudes, pois ela mostrará que uma pessoa não é soberba (orgulhosa) e se tem algo que Deus abomina é o soberbo.

Conheço um ministro do evangelho que já foi pastor, depois bispo, apóstolo, agora se auto-denominou PRIMAZ,  o meu questionamento é: o que ele será no futuro para satisfazer o seu ego?  Voltemo-nos as escrituras:

E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi.
Mateus 23:6,7

Os fariseus e os escribas usavam a religião para se promover diante dos homens, quando havia banquetes eles procuravam sentar nos primeiros lugares, nas sinagogas, que eram as igrejas da época, eles tinham lugares especiais. Quando eles passavam nas ruas eles queriam ser cumprimentados pelos homens, mestre, rabi, meu guia, doutor. Eles gostavam de títulos e gostavam que as pessoas se dirigissem a eles usando esses títulos. Isso é ser religioso. Religioso é aquele que pratica o cristianismo com o objetivo de ter primazia, controle, espaço. É aquele que explora a religião com o objetivo de se promover. Tem muita gente que explora o cristianismo para ganhar dinheiro, tá cheio de mercenário no meio evangélico, gente que se aproveita da religiosidade das pessoas para ganhar dinheiro. Seja se promovendo porque é um bom pregador, um bom palestrante ou um bom cantor. Há muitas maneiras que as pessoas criam para ganhar dinheiro em nome de Jesus. Mas tem gente que gosta de popularidade, mas do que de dinheiro. Tem gente que pensa que o dinheiro é o ídolo maior de todos, mas não, tem gente que não está preocupada com dinheiro, ele quer ser popular, quer ser adorado pelas pessoas, quer estar em primazia, quer ser respeitado pelas pessoas, quer que as pessoas olhem para ele ou ela com admiração.  Os fariseus gostavam dessas duas coisas da auto-exaltação e do dinheiro.

Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo”. Mateus 23:8-10

Jesus sempre condenou esse apreço que o fariseu tinha pelo primeiro lugar e pelas saudações que as pessoas davam para eles nas sinagogas e nas praças. Tem pessoas que gostam disso ai, e você conhece o religioso quando ele faz muita questão dessas coisas. E nós conhecemos muita gente assim nas igrejas, principalmente na liderança. São pastores, bispos, apóstolos que gostam de ser chamados assim, ou melhor, fazem questão desses títulos. Todavia quando analisamos as escrituras notamos que Jesus sempre evitou títulos, mestre, rabi. E sempre condenou a exaltação de pessoas no lugar de Deus. A liderança que Deus coloca na igreja recebe dons espirituais para servir a igreja e não para se colocar em destaque e ambicionar ser reverenciado com títulos. Isso parece, mas não é cristianismo. Isso é religião quando exalta o homem, a direção do comportamento da liderança cristã está em Mt 23:11 “O maior dentre vós será vosso servo”. Quer ser grande, sirva. “E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado". Mateus 23:12.

Sigamos o exemplo de Jesus “que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”. Isso é cristianismo.




[1] Schenelle, Udo – Paulo: Vida e Pensamento –p. 464
[2] At 19, 28-34 por duas vezes podemos ler “grande é a Artêmis dos efésios.
[3] Pereira, Sandro – Dissertação de Mestrado – p.23.

domingo, 7 de junho de 2015

A MULHER, A SUBMISSÃO, A IGREJA E SOCIEDADE DO SÉC XXI.

A cada dia que passa, a mulher conquista espaços que durante muito tempo foram dominados pelos homens. Hoje, ela é chefe, líder, executiva, comandante e… pastora.
Para uns, é natural e aceitável que elas estejam em posição de destaque, não só no mercado de trabalho, mas também dentro da igreja. Para outros, a mulher precisa ter uma missão abaixo da que o homem recebeu. Ou seja, submissão.
Mas o que significa “ser submisso” (sujeição, força repressiva, domínio) e qual é o impacto desse conceito na vida da mulher do século XXI? Vejamos o que as escrituras sagradas nos ensinam? Antes de responder a essa pergunta, primeiro precisamos entender, o quanto pode ser prejudicial uma tradução equivocada da palavra de Deus e quais são as consequências que isso pode levar.

Usaremos como exemplo o versículo 1 Co 11,10 em seu texto original no grego.

δια τουτο οφειλει η γυνη εξουσιαν εχειν επι της κεφαλης δια τους αγγελους

Por isso deve a mulher autoridade ter sobre a cabeça por causa dos anjos (tradução literal). A palavra autoridade  no grego “exousia” (grifada acima) tem o sentido de autoridade, habilidade. Ver http://bibliaportugues.com/interlinear/1_corinthians/11-10.htm

Agora vejamos o que diz a tradução da Bíblia Almeida Revisada, 
Portanto, a mulher deve trazer sobre a cabeça um sinal de submissão, por causa dos anjos” 1Co 11.10.
Nesta tradução a palavra no grego εξουσιαν (exousia) é traduzida por “submissão”, ou seja, a mulher tinha habilidade, autoridade e licença para governar a igreja em pé de igualdade com os homens, agora segundo essa tradução, ela está submissa.

Mas não para por aqui, vejamos o mesmo versículo na tradução da Bíblia Almeida Revista e Atualizada. 
“Por tanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade”. 
Percebemos que nesta tradução a submissão passa a ser visível, o tradutor acrescenta inoportunamente no texto original a palavra véu. Neste caso, segundo o entendimento desse versículo além da mulher ser submissa ela precisa demonstrar a sua submissão usando o véu.

Na Bíblia NTLH (Nova Tradução da Linguagem de Hoje), a situação da mulher piora de vez, vejamos 
Portanto, por causa dos anjos, a mulher deve por um véu na cabeça para mostrar que esta debaixo da autoridade do marido” 1 Co 11,10. 
Nesta tradução, além do jugo do véu, ela ainda precisa estar debaixo da autoridade do marido (outra frase que não existe no original).  Entre outras palavras, aquela que não colocar o véu e não obedecer ao seu respectivo marido está em desacordo com a palavra de Deus.

Fica evidente o quanto algumas traduções contemporâneas se desviaram do texto original, dando margem a uma discriminação e submissão da mulher em determinados ministérios. Em apenas três traduções foram acrescentados ao texto original as palavras: "submissão", "trazer um véu na cabeça", "por um véu" e "está debaixo da autoridade do marido". Enquanto que a palavra chave desse versículo εξουσιαν (exousia), cuja tradução é autoridade, habilidade foi retirada do texto bíblico.


Desta forma, podemos notar o quão prejudicial tem sido a situação feminina, ela que lutou tanto para progredir  na sociedade e vem conseguindo seu lugar ao Sol. Em algumas “igrejas” onde ela deveria ter liberdade, a mulher ainda está estigmatizada na Eva mitológica, fruto do machismo, da intolerância de alguns que se escondem por traz da insipiência bíblica. Pois conseguiram transformar o que era uma habilidade em submissão, o que era poder (autoridade) agora se transforma em dependência.

Essa inabilidade na tradução desse versículo, ocasionou inúmeras interpretações equivocadas da palavra de Deus. A Bíblia é o sagrado e não cabe a nós discutirmos sobre o sagrado, mas neste caso precisamos reparar essa injustiça. Quantas vidas nasceram, viveram e morreram debaixo dessa submissão? E não foi esse o plano de Deus, para o criador não há separação entre homens e mulheres.

“Pois todos quantos em Cristo fostes batizados, de Cristo vos revestistes.  Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gálatas 3:27-28.

É para que sejamos livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão. Gálatas 5:1


Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. João 8:36